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EUA, tirem as mãos da América Latina! Parar a onda de assassinatos de Trump!

Publicado originalmente em inglês em 13 de novembro de 2025

A chegada do porta-aviões USS Gerald R. Ford às águas do Caribe aumentou drasticamente a ameaça de uma guerra imperialista iminente dos EUA contra a Venezuela e a América Latina em geral.

O porta-aviões USS Gerald R. Ford. [Photo: US Navy/Seaman Alyssa Joy]

A escalada militar dos EUA ocorre logo após o mais recente anúncio triunfante do “Secretário da Guerra”, Peter Hegseth, de dois ataques aéreos americanos no último fim de semana, afundando dois pequenos barcos e matando mais seis pessoas. Isso elevou o número de mortos da onda criminosa de assassinatos do governo Trump contra civis desarmados nas costas da América do Sul para pelo menos 76. Houve 20 ataques desse tipo desde 2 de setembro, divididos igualmente entre as águas do sul do Caribe, nas proximidades da Venezuela, e da costa do Pacífico da Colômbia.

Após ter realizado uma série brutal do que as Nações Unidas descreveram como “execuções extrajudiciais” e crimes de guerra, o imperialismo dos EUA agora se prepara para atrocidades muito maiores.

O USS Ford, o maior navio de guerra da Marinha dos EUA, é acompanhado por três destróieres equipados com mísseis guiados e mais de 4.000 militares que compõem seu grupo de ataque. Eles estão se juntando a uma armada dos EUA de pelo menos oito navios de guerra, incluindo um submarino nuclear, e uma força combinada de mais de 10.000 marinheiros e fuzileiros navais que já estão perto da costa da Venezuela.

Essa vasta força militar é reforçada por uma frota de 10 caças F-35 enviados à recém-reaberta Estação Naval de Roosevelt Roads em Porto Rico, além de voos provocativos de bombardeiros B-52 nas proximidades da costa venezuelana. Soldados e fuzileiros navais dos EUA estão realizando exercícios tanto em Porto Rico quanto, pela primeira vez em décadas, no Panamá, em preparação para o destacamento de combate.

Analistas militares dos EUA descreveram a força naval americana no norte da América do Sul como a maior desde a primeira Guerra do Golfo dos EUA contra o Iraque em 1991. É de longe a maior força deslocada na região desde a invasão dos EUA ao Panamá em 1989.

A alegação de que esse deslocamento sem precedentes tem como finalidade interceptar carregamentos de cocaína é evidentemente absurda. O que está sendo preparado é uma guerra imperialista em larga escala com consequências incalculáveis.

O Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), um think tank baseado em Washington com laços íntimos com o aparato militar e de inteligência dos EUA, observou que o grupo de ataque do porta-aviões dos EUA está “mal estruturado para operações de combate às drogas”, mas “bem estruturado para ataques contra a Venezuela”. Comparou a mobilização dos EUA a um “arqueiro com uma flecha puxada. A postura é instável: ou lança ou recua.”

Que o governo Trump está se preparando para arrastar o povo americano para mais uma guerra de agressão baseada em mentiras está claro desde o início de sua onda de assassinatos no Caribe. A designação de pescadores venezuelanos e colombianos como “combatentes inimigos” e “narcoterroristas” de modo algum legitima seu massacre. E a pretensão de que a Venezuela é uma fonte significativa do fluxo de drogas para os EUA é desmentida por todos os relatórios confiáveis tanto de inteligência dos EUA quanto de agências internacionais.

Quais são os verdadeiros objetivos do aspirante a ditador Donald Trump e da oligarquia financeira que ele representa?

  • Derrubar o governo de Nicolás Maduro e impor em seu lugar uma ditadura fascista fantoche dos EUA;
  • Garantir o controle corporativo irrestrito dos EUA sobre as reservas de petróleo da Venezuela, as maiores do planeta, impedir que o principal rival estratégico de Washington, a China, se beneficie delas e se preparar para uma guerra mundial;
  • Evitar uma crise econômica e um colapso financeiro por meio da pilhagem direta; e
  • Impor as algemas da submissão neocolonial dos EUA não apenas sobre a Venezuela, mas sobre todo o Hemisfério Ocidental.

A escalada dos EUA foi acompanhada por um relatório na terça-feira dizendo de que o governo britânico ordenou a interrupção do compartilhamento de inteligência com os EUA sobre o tráfico de drogas no Caribe, onde Londres ainda controla algumas ilhas remanescentes de seu antigo império.

A razão dada é que o Reino Unido não quer se implicar em crimes de guerra contra os civis desarmados sendo mortos por mísseis dos EUA. Mas o imperialismo britânico lutou ombro a ombro com os EUA em guerras criminosas anteriores de massacres em massa, da Coréia aos Balcãs, Afeganistão, Iraque e Líbia. Se está expressando dúvidas desta vez, sem dúvida é devido a interesses imperialistas, e não a novas preocupações morais. A classe dominante britânica, por um lado, teme que será deixada de fora de qualquer divisão da Venezuela e, por outro, está cada vez mais em desacordo com Washington sobre tudo, desde a guerra na Ucrânia até as tarifas americanas em constante mudança.

De muito maior importância em termos de combate ao narcotráfico é o anúncio, na terça-feira, de que o governo colombiano está interrompendo todo o compartilhamento de inteligência com Washington. De acordo com oficiais dos EUA, a Colômbia forneceu 85% de toda a inteligência usada pela Força-Tarefa Interagências Conjunta do Sul (JIATF), com sede na Flórida, para intervir no tráfico de drogas ilegal.

A Colômbia rompeu esses laços após a divulgação inadvertida de uma fotografia de um alto funcionário dos EUA na Casa Branca segurando um documento com o título “A Doutrina Trump para a Colômbia e o Hemisfério Ocidental”, junto com uma fotografia gerada por IA retratando o presidente venezuelano Maduro e o presidente colombiano Gustavo Petro lado a lado em macacões laranja de prisioneiros. O documento em si pede a extensão da designação de “organização terrorista estrangeira” aos traficantes de drogas colombianos, apoio às forças de oposição ao presidente Petro na Colômbia e acusações criminais forjadas contra Petro para que ele, assim como Maduro, tenha uma recompensa de US$ 50 milhões por sua cabeça.

Petro, que descreveu a morte de venezuelanos e outros latinos-americanos por parte do exército dos EUA em pequenos barcos como “assassinato”, exigiu que Washington fornecesse uma explicação para o documento. Em vez disso, a resposta foi ainda mais calúnia. O Secretário de Estado Adjunto, Christopher Landau, declarou: “É muito trágico para o povo colombiano que eles sejam representados por uma pessoa de tal caráter moral baixo”, prevendo que “o povo colombiano, em sua grande sabedoria, rejeitará este caminho que leva à miséria, ao ódio, e seguirá outro caminho”.

A “Doutrina Donroe”

Qual é a “Doutrina Trump” ou, como é cinicamente chamada na Casa Branca, a “Doutrina Donroe”? A seminal Doutrina Monroe foi promulgada em 1823 como um aviso contra qualquer tentativa das reacionárias potências monárquicas da Europa de recolonizar as recém-independentes repúblicas da América Latina. Com a ascensão do imperialismo dos EUA, no entanto, passou por profundas mudanças à medida que os EUA reivindicavam as colônias da Espanha na Guerra Hispano-Americana de 1898 e reprimiam as aspirações revolucionárias dos povos dessas colônias, particularmente em Cuba, para afirmar a dominação dos EUA.

Em 1904, o presidente Teddy Roosevelt apresentou o chamado corolário “Big Stick” à doutrina, arrogando ao imperialismo dos EUA o direito de exercer “poder de polícia” onde quer que percebesse “maldade ou impotência” no hemisfério. Isso preparou o terreno para cerca de 50 intervenções militares diretas dos EUA.

Na segunda metade do século XX, a doutrina se tornou indissociavelmente entrelaçada com a Guerra Fria e uma cruzada global anti-comunista que viu ditaduras fascistas-militares apoiadas pelos EUA assumirem o poder em grande parte da América do Sul e Central, assassinando, torturando e prendendo centenas de milhares de trabalhadores, estudantes e outros opositores da dominação dos EUA e dos regimes militares.

A “Doutrina Trump” mantém todas as características contrarrevolucionárias que surgiram no século XX, mas sem qualquer pretensão hipócrita de que Washington persegue objetivos nobres de “liberdade” e “democracia”. Ela consiste em nada mais do que a insistência de gângster de que o poder dos EUA é sinônimo de justiça e que Washington se apropriará de tudo o que seu poder militar lhe permitir.

Um ataque à Venezuela seria apenas o ponto de partida para a agressão dos EUA por toda a região.

Oficiais dos EUA estariam, supostamente, avaliando uma guerra na América do Sul sob a ótica da invasão do Panamá em 1989, quando Noriega foi levado aos EUA para enfrentar um julgamento por acusações de tráfico de drogas. A Venezuela, no entanto, tem uma área 12 vezes maior que a do Panamá, e sua população é 10 vezes a do Panamá há 35 anos. Além disso, os EUA não têm presença militar na Venezuela, enquanto o Panamá era dividido pela Zona do Canal do Panamá, administrada pelos EUA, com várias bases militares e cerca de 13.000 soldados americanos estacionados lá.

O relatório do CSIS injeta uma nota de sobriedade na atmosfera embriagada de guerra em Washington, alertando que, enquanto os EUA são capazes de lançar “uma campanha aérea prolongada, composta por uma série de ataques para paralisar e desestabilizar o regime de Maduro”, tais campanhas “só teriam sucesso se acompanhadas pela ameaça ou uma campanha terrestre”. Evocando o que sobrou da campanha de “choque e pavor” contra o Iraque em 2003, adverte que a oposição de direita apoiada pelos EUA pode ser muito fraca para “exercer controle sobre o país uma vez que chegue ao poder”, deixando o governo Trump diante “do tipo de esforço militar prolongado que tentou evitar”, ou seja, outra guerra eterna, desta vez em seu “próprio quintal”.

A política externa do imperialismo dos EUA é uma extensão de sua política interna por outros meios. Washington está se preparando para lançar uma guerra contra a Venezuela, enquanto o governo Trump proclama sua guerra contra as cidades dos EUA e o “inimigo interno”. Ele tem conduzido uma operação implacável de Estado policial contra trabalhadores imigrantes, incluindo, paradoxalmente, a remoção de cerca de 600.000 venezuelanos do Status de Proteção Temporária, uma medida que é profundamente impopular na Venezuela. Enquanto isso, está buscando enviar tropas do Exército dos EUA a grandes áreas urbanas para reprimir a oposição.

Enquanto Trump justifica um ataque militar à Venezuela com suas alegações absurdas de que o governo Maduro orquestra o fluxo de migrantes impulsionados pelas sanções econômicas brutais imposta por Washington e dirige cartéis de drogas, inevitavelmente se aproveitará de um conflito armado na América do Sul como pretexto para exigir poderes de Estado policial ainda maiores dentro dos próprios EUA.

Washington está sendo levado a buscar, por meios de violência criminosa, soluções para problemas insolúveis enraizados nas contradições do capitalismo dos EUA e global. Há uma aparente loucura nos objetivos de guerra do imperialismo dos EUA na América Latina. O imperialismo americano não pode reverter a ascensão da China como principal parceiro comercial da América do Sul com bombas e mísseis, a menos que entre em uma guerra mundial total. Mas esse é o caminho que está seguindo, juntamente com uma marcha rumo à ditadura fascista.

A agressão armada dos EUA contra a Venezuela acenderá um barril de pólvora social e política na América Latina, ao mesmo tempo em que despertará a oposição profundamente enraizada nos EUA ao militarismo e aos inevitáveis ataques sociais que acompanharão mais uma guerra dos EUA.

A guerra não pode ser parada contando com a suposta oposição a Trump no Partido Democrata. Foi o governo Obama que primeiro declarou um estado de emergência nacional em 2015, rotulando a Venezuela “uma ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional e à política externa dos Estados Unidos”. Lançando as bases para as sanções severas destinadas a levar a Venezuela à submissão e permitir operações contínuas de mudança de regime, o decreto foi renovado pelos governos Trump e Biden. Quaisquer que sejam as diferenças que os democratas tenham com Trump, centradas principalmente em sua demanda por uma política mais belicosa em relação à Rússia, eles, acima de tudo, temem uma revolta em massa de baixo para cima.

Ao mesmo tempo, o governo Maduro, que representa os interesses de setores da burguesia venezuelana e do capital estrangeiro, é incapaz de fazer qualquer apelo genuíno anti-imperialista à classe trabalhadora e às massas oprimidas da Venezuela e das Américas.

Os trabalhadores de ambos os lados do Rio Grande devem entender a realidade de que eles são o verdadeiro alvo do imperialismo e devem unir-se além das fronteiras nacionais em uma luta unificada contra a guerra imperialista e para acabar com o sistema capitalista que é sua fonte.

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