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Perspectivas

Trump declara guerra ao mundo em discurso na Assembleia Geral da ONU

Publicado originalmente em inglês em 24 de setembro de 2025

O presidente dos EUA, Donald Trump, proferiu um discurso fascista na terça-feira na 80ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, na qual proclamou que o lema “Os EUA em Primeiro Lugar” deve ser o princípio organizador do mundo, ameaçou guerra e agressão em todo o mundo e glorificou as ações criminosas de seu governo em casa e no exterior.

O presidente Donald Trump falando na 80ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 23 de setembro de 2025.

Ele atacou tanto os supostos aliados dos EUA quanto os Estados que estão há muito nas linhas de mira estratégica e militar de Washington em um discurso divagante que durou quase o triplo do tempo que lhe foi concedido.

Trump se deleitou em exibir seu desprezo e desdém pela lei internacional, deixando claro que Washington não aceitará restrições à afirmação impiedosa de seus interesses imperialistas, seja por meio de guerra comercial, assassinatos, operações de mudança de regime ou guerra global.

Ele citou como modelos para o mundo elementos-chave em sua contínua tentativa de estabelecer uma ditadura presidencial, como a ocupação de Washington por tropas da Guarda Nacional e o ataque a imigrantes.

Trump culpou a ONU e sua agenda “globalista” por muitos, senão pela maioria, dos problemas da humanidade. Ele alegou que a ONU, por meio de seus programas limitados de ajuda a refugiados criados por guerras e opressões imperialistas, está “financiando um ataque aos países ocidentais”, expondo efetivamente da tribuna da ONU a teoria da Grande Substituição da supremacia branca.

“A ONU,” declarou, “deveria parar invasões, não criá-las e não financiá-las”.

Ele criticou os tradicionais aliados europeus doss EUA por não serem agressivos o suficiente em restringir a imigração e expulsar imigrantes, e por tentarem limitar as emissões de gases do efeito estufa e as mudanças climáticas, a “maior farsa” da história.

“A Europa está em sérios problemas. Eles foram invadidos por uma força de imigrantes ilegais como ninguém jamais viu antes. … Tanto a imigração quanto as ideias de energia suicida serão a morte da Europa Ocidental”, disse Trump.

Trump ignorou levianamente o genocídio dos palestinos – apropriadamente, dado o papel do imperialismo americano em armar Israel até os dentes e sua própria incitação ao regime de Netanyahu para perseguir a limpeza étnica completa de Gaza com seu plano de “Riviera do Oriente Médio”. Mesmo enquanto Israel matava de fome e bombardeava o povo de Gaza e invadia a Cidade de Gaza com o objetivo de arrasá-la, Trump protestava contra as “atrocidades” do Hamas. 

Ele se vangloriou da guerra ilegal que os EUA e Israel travaram contra o Irã no mês passado, durante a qual os EUA primeiro atraíram Teerã para uma armadilha, fingindo querer buscar negociações de paz, e depois amplificaram os primeiros ataques israelenses com um ataque maciço às instalações nucleares civis iranianas. “Hoje,” se vangloriou Trump, “a maioria dos comandantes militares do Irã não está mais conosco; eles estão mortos”.

O presidente dos EUA também usou seu discurso na ONU para continuar os preparativos de Washington para invadir a Venezuela, como parte de sua campanha para reverter a crescente influência chinesa na América do Sul. Nas últimas semanas, forças militares dos EUA destruíram dois barcos ao largo da costa da Venezuela, matando pelo menos 17 pessoas, alegando de maneira totalmente infundada que eles estavam traficando drogas. Mas mesmo que isso fosse verdade, nenhum governo tem o direito de executar pessoas sumariamente.

No entanto, Trump, ostentando o recurso de seu governo à violência criminosa e fingindo estar se dirigindo a quem transporta drogas da Venezuela, declarou diante da Assembleia Geral: “Nós vamos eliminar a sua existência”.

Trump, em seus comentários antes da ONU e em postagens nas redes sociais após uma reunião subsequente com o presidente ucraniano Volodomyr Zelensky, também escalou as ameaças dos EUA contra a Rússia. Ele não apenas culpou Putin e a Rússia pela continuidade da guerra na Ucrânia instigada pelos EUA/OTAN e ameaçou Moscou com sanções econômicas muito mais agressivas, mas declarou: “Eu acho que a Ucrânia, com o apoio da União Europeia, está em uma posição de lutar e RECUPERAR toda a Ucrânia em sua forma original”.

Relatos da mídia na corrida para a Assembleia Geral da ONU focaram em grande parte no suposto reconhecimento histórico de um estado palestino por vários países ocidentais, incluindo França, Reino Unido, Canadá e Austrália.

Essa manobra, veementemente oposta por Trump, nasceu do medo do impacto radicalizador que o genocídio contínuo está tendo na classe trabalhadora e na juventude dos centros imperialistas e do Oriente Médio, e constitui uma tentativa desesperada por parte de figuras como Macron da França, Starmer do  Reino Unido e Carney do Canadá de encobrir sua profunda e contínua cumplicidade.

Isso é totalmente consistente com a simultânea intensificação das ameaças belicosas contra a Rússia por parte das potências europeias. Essas ameaças incluem promessas de derrubar aviões de guerra russos, caso eles “novamente” adentrem o espaço aéreo da OTAN, uma alegação que Moscou nega.

Durante os primeiros nove meses do segundo governo Trump, dois objetivos interligados têm impulsionado a política do establishment na Alemanha, França e Reino Unido. Primeiro, interromper os esforços de Trump para alcançar um entendimento com Moscou para encerrar a guerra na Ucrânia às suas custas; e, segundo, aumentar massivamente os gastos militares, para que possam garantir o poder militar para perseguir seus interesses imperialistas independentemente e, se necessário, em oposição aos Estados Unidos.

O rearmamento e a guerra com a Rússia exigirão um ataque massivo à classe trabalhadora, como foi prefigurado na declaração do mês passado pelo novo Chanceler alemão Friedrich Merz de que “O Estado de Bem-Estar como o conhecemos hoje não é mais economicamente sustentável”.

Isso também implicará necessariamente uma virada para métodos autoritários de governo e a entrada da extrema direita nos corredores do poder, exatamente pelas mesmas razões que levaram a oligarquia dos EUA a se voltar para Trump – a militarização da sociedade e a eliminação do que resta dos direitos sociais da classe trabalhadora para pagar pela guerra enfrentará uma oposição massiva da classe trabalhadora. Esses processos já estão bastante avançados, como exemplificado pela promoção da classe dominante da nojenta propaganda anti-imigrante da qual a extrema direita se alimenta, além da difamação e da repressão a manifestantes contra o genocídio por muitos dos mesmos governos que agora se mostram preocupados com os direitos nacionais dos palestinos.

O discurso fascista de Trump diante da ONU surpreendeu os líderes governamentais e diplomatas seniores presentes. “Seis anos atrás, o público da ONU de Trump riu, este ano eles ficaram em silêncio,” anunciou o título de uma reportagem da BBC.

Isso não é porque Trump é onipotente. Pelo contrário, ele personifica o declínio e a depravação do imperialismo dos EUA, a fortaleza do capitalismo mundial desde a Segunda Guerra Mundial e ainda o centro das finanças mundiais e o cockpit da contrarrevolução global.

A realidade é que as Nações Unidas estão entrando em colapso, como aconteceu com a Liga das Nações antes da Segunda Guerra Mundial e pelos mesmos motivos fundamentais. Diante de uma crise sistêmica, as potências imperialistas rivais estão buscando uma divisão violenta do mundo para garantir o controle sobre recursos críticos, mercados, redes de produção e territórios estratégicos.

Liderados pelo imperialismo dos EUA e pelo gangster fascista Trump, qualquer disfarce de legalidade está sendo descartado e a lei da selva – quem pode mais, pode  – está sendo afirmada violentamente. O próprio Trump zombou da ONU por sua impotência e irrelevância.

Dentro do sistema de relações interestatais capitalistas e da política do establishment, não há meio de opor-se à guerra e à rápida queda em uma conflagração global. Putin e Xi lideram regimes restauradores do capitalismo que exploram impiedosamente os trabalhadores da Rússia e da China e oscilam entre chegar a um acordo com as potências imperialistas às custas das massas e ameaças e aventuras militares reacionárias.

Como Leon Trotsky explicou incisivamente, para se opor às guerras imperialistas e à barbárie capitalista, a classe trabalhadora deve olhar não para o mapa da guerra, mas para o mapa da luta de classes. Os mesmos processos que estão levando as potências capitalistas à guerra estão alimentando a revolução social. A tarefa crítica é infundir nas crescentes lutas contra a guerra, a austeridade, a ditadura e o fascismo uma perspectiva socialista e armá-las com uma direção revolucionária. Essa é a tarefa à qual o World Socialist Web Site e o Comitê Internacional da Quarta Internacional e seus partidos afiliados, os Partidos Socialistas pela Igualdade, se dedicam.

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