Português

Palestra da Escola de Verão do SEP – 2023

O papel da Segurança e a Quarta Internacional na luta pela continuidade do Comitê Internacional da Quarta Internacional

A palestra a seguir foi proferida por Eric London, dirigente do Partido Socialista pela Igualdade (SEP) nos EUA, na Escola Internacional de Verão do SEP (EUA), realizada entre 30 de julho e 4 de agosto de 2023.

Já foram publicadas em português as palestras Leon Trotsky e a luta pelo socialismo na época da guerra imperialista e da revolução socialista, de David North; Os fundamentos históricos e políticos da Quarta Internacional, de Clara Weiss e Johannes Stern; As origens do revisionismo pablista, o racha na Quarta Internacional e a fundação do Comitê Internacional, de Joseph Kishore; A luta contínua contra o pablismo, o centrismo da OCI e a crise emergente no CIQI, de Samuel Tissot e Peter Schwarz; e A Revolução Cubana e a oposição da SLL à reunificação sem princípios com o pablismo em 1963, de Tomas Castanheira.

O Quinto Congresso do Comitê Internacional

Na primavera de 1974 [do hemisfério norte], Tim Wohlforth, então secretário nacional da Workers League [a predecessora do Partido Socialista pela Igualdade dos EUA] viajou para a Inglaterra para o Quinto Congresso Mundial do Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI), com a participação de delegados de seções internacionais e grupos simpatizantes. Alguns dos participantes da conferência viviam sob ditaduras militares, incluindo a Espanha de Franco, onde a pena para atividades revolucionárias podia ser a morte.

Wohlforth havia recentemente iniciado um relacionamento com uma jovem membro da Workers League, Nancy Fields, que ele decidiu levar consigo para participar do congresso, apesar de sua falta de experiência política e interesse pelo marxismo. Embora inicialmente tenha negado, Wohlforth logo admitiria que sabia, naquela época, que Nancy Fields tinha laços familiares próximos com membros importantes da Agência Central de Inteligência (CIA). Ele não informou aos camaradas do CI sobre os laços dela antes do congresso em Londres e não procurou obter uma autorização de segurança para que ela participasse.

Tim Wohlforth e sua companheira, Nancy Fields.

O congresso ocorreu em condições de extraordinária crise política, com sérias implicações de segurança para o partido e todos os participantes. Em fevereiro de 1974, os mineiros de carvão iniciaram uma greve e o governo conservador de Edward Heath convocou eleições gerais naquele mesmo mês, com base em um apelo direto para esmagar a classe trabalhadora, sob o slogan “Quem governa a Inglaterra?”

Harold Wilson e o Partido Trabalhista venceram as eleições, e as agências de inteligência britânicas rapidamente começaram a preparar o que hoje conhecemos como Operação “Clockwork Orange” para preparar um possível golpe, temendo que Wilson fosse incapaz de conter o crescimento da luta de classes. Tropas foram mobilizadas para tomar o Aeroporto de Heathrow e uma campanha de desinformação foi iniciada, alegando que Wilson era um espião soviético. [1]

O Workers Revolutionary Party (WRP) [então a seção britânica do CIQI] estava sob forte vigilância na época em que Fields viajou com Wohlforth para o congresso em Londres. Relatórios da época do MI5 e da Polícia Metropolitana divulgados pela Investigação sobre a Polícia Secreta Britânica mostraram que os escritórios do partido foram grampeados e que agentes da polícia foram infiltrados em todo o partido para informar sobre as atividades do WRP.

Documentos recém-divulgados mostraram que o WRP foi citado nos relatórios da chamada Força Especial de Manifestações da Unidade Nacional de Inteligência da Ordem Pública em 1973, 1974 e 1975 e que vários agentes da polícia forneceram informações detalhadas sobre os membros do partido, suas vidas privadas, disputas internas, planos para campanhas e iniciativas, e outros assuntos do partido durante esse período. A partir de outras fontes, evidentemente entre a direção do WRP, a polícia era mantida informada sobre o conteúdo das reuniões do Comitê Político. [2]

Exemplos de títulos de relatórios policiais relativos a membros comuns do partido incluem “relatório sobre o próximo casamento da secretária da seção de Little Ilford do WRP”, “relatório sobre a reunião da seção de Highbury da filial de Hackney do WRP”, “relatório sobre os detalhes da gravidez da organizadora nacional da seção da juventude socialista do WRP”, etc.

Nestas condições, Wohlforth e Fields viajaram para a Inglaterra e participaram juntos do congresso do CI sem informar ninguém sobre os seus laços com a CIA.

Ao longo de 1974, Fields, com o apoio de Wohlforth, desempenhou um papel destrutivo na Workers League. Uma pessoa profundamente subjetiva que se promovia como uma gênia organizacional, Fields foi rapidamente elevada à direção política por meio de seu relacionamento pessoal com o secretário nacional. Ela e Wohlforth viajaram pelo país em um carro esportivo pago com dinheiro do partido, gritando ordens aos membros do partido e expulsando-os. Um membro da Workers League disse sobre sua atitude em relação aos quadros que “ela nos tratava como cães”.

O partido estava em grave crise. Wohlforth admitiu a Healy que, de 1973 a meados de 1974, 100 pessoas deixaram o movimento, incluindo metade do Comitê Nacional e do Comitê Político.

Ele escreveu a Healy em 19 de julho de 1974: “Somos, é claro, um movimento muito esquelético atualmente, com um trabalho muito bom realizado por pouquíssimas pessoas em muitas áreas. Ficamos praticamente sem intelectuais - uma grande e maldita deserção. O que for feito nessa frente eu terei de fazer junto com Nancy.”

O acampamento de verão da Workers League entre 30 e 31 de agosto de 1974

A crise na Workers League tornou-se mais urgente e veio à tona em seu acampamento de verão realizado em agosto daquele ano. Duas semanas antes da escola, Wohlforth foi chamado para viajar à Inglaterra para discutir a crise na Workers League. A essa altura, os relatos da atitude extremamente subjetiva e hostil de Fields haviam chegado à direção do CI.

Em uma reunião do Comitê Político do WRP em 18 de agosto de 1974, Healy confrontou Wohlforth sobre a rápida ascensão de Fields à direção da Workers League e perguntou se Wohlforth tinha algum motivo para suspeitar que ela poderia estar ligada à CIA. Healy expressou uma preocupação especial com sua participação no Quinto Congresso do CI naquela primavera. Considerando suas atividades destrutivas nos EUA, o comparecimento de Fields parecia politicamente inexplicável. Esse era o período do COINTELPRO [Programa de Contrainteligência, do FBI], e era de conhecimento público que o FBI e outras agências de vigilância doméstica inundavam grupos de esquerda e antiguerra com agentes para causar estragos em suas organizações-alvo.

Wohlforth respondeu que não tinha nenhum motivo para suspeitar que ela tivesse conexões com a CIA.

No entanto, em duas semanas, o CI teria acesso a informações que deixariam claro que ela de fato tinha essas conexões. Ela havia sido criada e sustentada financeiramente desde a infância por seu tio, Albert Morris, um agente de alto nível da CIA, responsável pela divisão de computadores IBM da agência e amigo pessoal do diretor da CIA, Richard Helms, que era hóspede frequente da casa de Morris quando Fields estava crescendo. [3]

Helms estava pessoalmente envolvido em uma grande operação de vigilância doméstica contra mais de 10.000 militantes socialistas, de esquerda e antiguerra exatamente nessa época. De acordo com uma reportagem de dezembro de 1974 de Seymour Hersh no New York Times:

Como parte de seu suposto esforço contra americanos dissidentes no final dos anos 60 e início dos anos 70, a CIA autorizou agentes a seguir e fotografar participantes de manifestações contra a guerra e outras. A CIA também montou uma rede de informantes que receberam ordens para se infiltrar em grupos antiguerra. [4]

Um acampamento de verão da Workers League havia sido programado no Canadá para o final de agosto, e logo ficou claro que Wohlforth não havia feito praticamente nada para prepará-lo. Cliff Slaughter, que estava presente desde o início do acampamento, pediu a Healy que viajasse de avião para responder à crise. A Workers League estava à beira do colapso. Na escola, quando confrontado sobre Fields, Wohlforth admitiu que tinha conhecimento das conexões da família dela com a CIA, embora tenha dito que achava que eram “irrelevantes”.

A relação dessa omissão com a crise que vinha se formando no partido estava ficando clara. Em 31 de agosto de 1974, o Comitê Central da Workers League votou pela destituição de Wohlforth do cargo de secretário nacional e pela suspensão da filiação de Fields, enquanto se aguardava o resultado de uma investigação de uma comissão de controle sobre os laços familiares de Fields. A votação foi unânime, com Wohlforth e Fields votando a favor. A Workers League criou uma comissão de controle de duas pessoas para investigar as acusações, e a comissão planejou colher os depoimentos de Wohlforth e Fields como parte da investigação.

Posteriormente, ambos se recusaram a participar da comissão de controle de qualquer forma, rejeitando solicitações de depoimentos e deixando de apresentar explicações por escrito sobre as conexões de Fields com a CIA. Um mês depois, no final de setembro, Wohlforth deixou a Workers League. Em sua carta de renúncia de 29 de setembro de 1974, ele declarou repentinamente:

Oponho-me total e completamente aos procedimentos e decisões da reunião do Comitê Central realizada em 31 de agosto em nosso acampamento, a pedido e em conjunto com os companheiros do Comitê Internacional. Acredito que essa reunião representou um sério retrocesso na construção do partido revolucionário nos Estados Unidos e na construção do partido revolucionário em nível mundial.

Wohlforth continuou:

Fui destituído do cargo de secretário nacional em uma reunião completamente histérica, com base em acusações de natureza completamente caluniosa, no meio da noite, em um acampamento, de modo que não houve nenhuma, absolutamente nenhuma, discussão prévia sobre as questões no Comitê Político, no Comitê Central e em todo o partido. [5]

Wohlforth não reconheceu, é claro, que o motivo de não ter havido absolutamente nenhuma discussão antes do acampamento sobre Fields foi o fato de ele mesmo ter encoberto os vínculos dela com a CIA por tanto tempo. Ele chamou as preocupações com as conexões dela com a CIA de “infundadas, ridículas e absurdas” e disse que “o procedimento nessa questão é monstruoso. A reputação de uma camarada é, de qualquer forma, irremediavelmente prejudicada ao se fazer tal acusação...”. [6]

Wohlforth declarou que qualquer investigação sobre Fields seria uma “inquisição” e uma “caça às bruxas” e, em seguida, disse: “Eu sugeriria que o lugar para encontrar agentes na Workers League é entre aqueles que espalham escândalos contra seus dirigentes, e não entre aqueles que são vítimas de calúnias. Foi assim nos dias da Quarta Internacional sob o comando de Trotsky”. [7] Essa afirmação, como veremos, era totalmente falsa.

A resposta do CI e as conclusões da comissão de investigação

Cliff Slaughter, escrevendo em nome do Comitê Internacional, respondeu a Wohlforth em uma carta de 6 de outubro de 1974. As razões para a renúncia de Wohlforth, escreveu Slaughter, eram “totalmente inaceitáveis em nosso movimento e deturpavam completamente os procedimentos do Comitê Central da Workers League de 30 e 31 de agosto”. [8]

Cliff Slaughter.

Slaughter explicou: “Você foi removido do cargo de secretário por decisão unânime do seu próprio Comitê Central. ... O motivo dessa decisão foi sua própria ação no Congresso em abril [sic] de 1974. Você permitiu que o Congresso, com a presença de companheiros de países onde trabalham clandestinamente, realizasse seus trabalhos na presença de Nancy Fields, que fazia parte de sua delegação e que sabia ter ligações familiares muito próximas com a CIA. Nem você nem ela levaram essa questão ao comitê para que pudesse ser investigada e esclarecida.” [9]

Slaughter exigiu que Wohlforth retirasse sua alegação de que a comissão de investigação era uma “inquisição” criada para “desenterrar” provas contra Fields. Ele acusou Wohlforth pela reclamação deste último de que o Comitê Central da Workers League votou pela suspensão de Nancy Fields “somente por causa da intervenção do CI”.

Ele escreveu:

Como um camarada que teve de lutar contra o anti-internacionalismo de Cannon e Hansen, e depois Robertson, você certamente deve ficar alerta ao reler essas palavras. ... Com esse apelo, você nega suas próprias lutas passadas e apela para os piores elementos do movimento e, particularmente, para os grupos hostis que esperam para atacá-lo e destruí-lo. Todo revisionista pequeno-burguês podre concentra seu ataque no suposto autoritarismo do CI e defende sua independência nacional. [10]

A esta altura, camarada Wohlforth, pedimos que reconsidere e mude imediatamente sua posição. Ainda não é tarde demais. Você é chamado a reassumir imediatamente suas responsabilidades na direção da Workers League e do CI e a colaborar com o trabalho da investigação. ... Somente assim poderá se preparar para retomar suas posições na direção. [11]

Em 9 de novembro, a Comissão de Investigação publicou suas conclusões. O relatório explicou que Wohlforth e Fields “se recusaram a colaborar com a investigação, colocando suas considerações pessoais acima das decisões do partido, uma posição que é inadmissível”.

A comissão concluiu que Tim Wohlforth “ocultou informações vitais para a segurança do CI e de sua conferência de 1974”. Ela explicou que coletou os depoimentos de 22 membros e ex-membros e, como resultado:

A investigação estabeleceu que, desde os 12 anos de idade até a conclusão de seus estudos universitários, NF foi criada, educada e sustentada financeiramente por seus tios, Albert e Gigs Morris. Albert Morris é o chefe da operação de computadores IBM da CIA em Washington, além de ser um grande acionista da IBM. Ele foi membro da OSS, precursora da CIA, e trabalhou na Polônia como agente do imperialismo. Durante a década de 1960, um hóspede frequente em sua casa no Maine era Richard Helms, ex-diretor da CIA e atual embaixador dos EUA no Irã. [12]

Nancy Fields.

Com relação a Nancy Fields, a Comissão explicou:

Descobrimos que o histórico de NF no partido era o de uma pessoa altamente instável que nunca rompeu com o método oportunista do radicalismo de classe média. Ela adotou métodos administrativos e completamente subjetivos para lidar com problemas políticos. Esses métodos eram extremamente destrutivos, especialmente no campo mais decisivo da construção da direção. Tim Wohlforth tinha plena consciência dessa instabilidade e teve a responsabilidade de levar NF à direção. Ele se viu em uma posição isolada, na qual acabou ocultando do CI as conexões anteriores de Nancy Fields com a CIA. Ele tem clara responsabilidade política por esse fato. [13]

A Comissão então decidiu:

Depois de interrogar e investigar todo o material disponível, não há nenhuma evidência que sugira que o NF ou TW estejam de alguma forma ligados ao trabalho da CIA ou de qualquer outra agência governamental. A investigação levou em conta os muitos anos de luta de TW pelo partido e pelo CI, muitas vezes em condições muito difíceis, e o incentivou a corrigir seus erros individualistas e pragmáticos e retornar ao partido.

Recomendamos que TW, assim que decidir voltar à Workers League, retorne aos principais comitês e ao seu trabalho no Bulletin [o jornal da Workers League], e tenha o direito de ser indicado para qualquer cargo, inclusive o de secretário nacional, na próxima Conferência Nacional, no início de 1975.

Recomendamos o cancelamento imediato da suspensão da NF, com a condição de que ela não tenha permissão para ocupar nenhum cargo na Workers League por dois anos. [14]

A Comissão concluiu:

A investigação chama urgentemente a atenção de todas as seções para a necessidade de vigilância constante em questões de segurança. Nosso movimento tem grandes oportunidades de crescimento em todos os países devido às lutas de classe sem precedentes que devem eclodir da crise capitalista mundial. Essa situação também significa que as atividades contrarrevolucionárias da CIA e de todas as agências imperialistas contra nós serão intensificadas. É um dever revolucionário básico prestar atenção constante e detalhada a essas questões de segurança como parte da guinada às massas para a construção de partidos revolucionários. [15]

Antes de abordar a resposta das organizações revisionistas e pablistas, em primeiro lugar é necessário fazer algumas observações sobre a própria comissão de controle. Apesar de todos os ataques à Workers League e ao CI por “histeria”, a comissão de controle conduziu seu trabalho de forma responsável e sem nenhum tipo de pânico. Em contraste com as comissões de controle realizadas pelo Socialist Workers Party (SWP) dos EUA nos anos após o assassinato de Trotsky, ela disse a verdade aos membros. Ofereceu a Wohlforth e Fields a oportunidade de participar da investigação e de voltar ao movimento após sua conclusão. Não impediu nenhum dos dois de ocupar cargos de direção, indicando inclusive que Wohlforth poderia se candidatar novamente a secretário nacional em um futuro imediato. Fields foi impedida de ocupar um cargo de direção por dois anos, mas também recebeu todas as chances de continuar trabalhando. A Workers League não os expulsou do partido, eles se desligaram dele.

Nada disso importava para os grupos revisionistas, que usaram o ataque de Wohlforth e Fields ao CI e à Workers League para lançar uma campanha com o objetivo de desacreditar e destruir o partido. Em poucos meses, o secretário nacional da Workers League, que havia ajudado a fundar o Comitê Americano para a Quarta Internacional em 1964, anunciou que havia se filiado novamente ao movimento pablista, quase da noite para o dia.

A profundidade do subjetivismo que ele e Fields demonstraram nessa luta é uma lição amarga para o movimento. O subjetivismo político, baseado na elevação dos interesses pessoais acima dos interesses da classe trabalhadora, é totalmente incompatível com a política socialista revolucionária. Não toleramos esse tipo de abordagem. Não somos um partido para carreiristas e autopromotores, que usam relacionamentos pessoais para cultivar panelinhas, o que Trotsky caracterizou como “amizade de círculo, você por mim e eu por você”. Em The Struggle for a Proletarian Party [A luta por um Partido Proletário], escrito sobre o racha de 1939-40 com Shachtman, Abern e Burnham, James Cannon escreveu:

O intelectual pequeno-burguês, que quer ensinar e conduzir o movimento operário sem participar dele, sente apenas laços frouxos com ele e está sempre cheio de “queixas” contra ele. Quando é pisado ou rejeitado, ele esquece tudo sobre os interesses do movimento e se lembra apenas de que seus sentimentos foram feridos; a revolução pode ser importante, mas a vaidade ferida de um intelectual pequeno-burguês é mais importante. [16]

James P. Cannon.
O SWP responde ao rompimento de Wohlforth com a Workers League

Em fevereiro e março de 1975, Joseph Hansen elogiou Wohlforth por sua decisão de deixar a Workers League, e a revista semanal do Socialist Workers Party (SWP), Intercontinental Press, publicou as denúncias de Wohlforth contra o movimento.

Em 22 de março de 1975, a Workers League respondeu aos ataques de Wohlforth ao partido, escrevendo:

A CIA não é uma questão secundária para o nosso movimento, mas uma questão indispensável que decorre dos princípios da construção de partidos revolucionários do Comitê Internacional da Quarta Internacional. Somente alguém que não leva a sério a construção do partido mundial da revolução socialista pode descartar a questão da segurança contra a CIA, o centro internacional dos planos contrarrevolucionários dos imperialistas. [17]

Joseph Hansen.

Em 31 de março de 1975, Joseph Hansen publicou sua infame denúncia contra o CI e sua defesa de Wohlforth, o homem que havia sido seu oponente político por 14 anos e que ele havia ajudado a expulsar do SWP mais de uma década antes. Hansen escreveu que a “sinceridade de Wohlforth é inegável e só podemos desejar-lhe melhor sorte em seu próximo empreendimento”. Atacando Gerry Healy, Hansen escreveu:

Wohlforth descreve o comportamento de Healy como “loucura”. Não seria preferível, e talvez mais preciso, usar um termo moderno como “paranóia”?

Se o termo se encaixa, então a verdadeira explicação para as obsessões de Healy sobre agentes da CIA, agentes da polícia e conspirações contra sua vida, bem como suas fúrias, suas “reações extremas” e sua estranha versão da dialética, devem ser encontradas não em sua política, em sua metodologia filosófica ou em modelos como Pablo ou Cannon, mas no funcionamento de uma mente mais bem compreendida por psiquiatras. [18]

Essa declaração, e o ataque coordenado contra o CI que estava então se desenrolando, tiveram um significado profundo, que o Comitê Internacional reconheceu imediatamente. Joseph Hansen havia sido guarda de Trotsky em Coyoacán. Ele estava presente no assassinato de 20 de agosto de 1940, que foi realizado como resultado da infiltração da vila onde Trotsky morava e do SWP nos Estados Unidos pela GPU de Stalin. Em 1975, era de conhecimento público que Mark Zborowski, braço direito de Lev Sedov em Paris, havia se infiltrado no movimento e desempenhado um papel crítico no assassinato de Trotsky e Sedov, bem como do desertor da GPU Ignatz Reiss, Erwin Wolf e Rudolph Klement, secretário da Quarta Internacional. Nenhum revolucionário que tivesse vivido esse período de desastrosas falhas de segurança se referiria às preocupações com a segurança como “paranóia”. O CI reconheceu nas palavras e ações de Hansen um esforço deliberado para desorientar o movimento revolucionário e criar um clima de hostilidade violenta contra o Comitê Internacional.

O Comitê Internacional responde a Hansen

O CI respondeu a Hansen em uma declaração publicada em abril de 1975. A declaração aborda a essência do que constitui um partido revolucionário:

A segurança não é uma questão abstrata ou secundária. Um partido que não se baseia na disciplina revolucionária em suas próprias fileiras não pode conquistar o apoio da classe trabalhadora para enfrentar a máquina estatal capitalista, derrubá-la e estabelecer a ditadura do proletariado.

A declaração do CI ainda observou que o ataque de Hansen à Workers League e ao CI “nos permite reabrir páginas vitais da história do trotskismo”.

Segundo ela, “Somos obrigados a apresentar essa história, com todos os seus defeitos, já que nosso movimento pagou um preço terrível no passado ao ignorar e ridicularizar a formação em segurança em suas fileiras. Essas são as páginas que Hansen quer suprimir.”

O Comitê Internacional “não vai se intimidar com os gritos e berros dos revisionistas”, dizia a declaração.

Eles podem nos chamar de “sectários” e “paranóicos” até ficarem sem palavras. Ao usarem esses rótulos, eles estão de fato atacando a luta do CI por princípios e sua atenção à disciplina e à vigilância de segurança em nossas fileiras. Não estamos construindo uma sucursal para aventureiros e oportunistas de classe média, que é a marca registrada dos grupos internacionais de Hansen. Esse caminho é um convite aberto à CIA e à penetração da polícia, porque é exatamente entre esses elementos que as agências policiais operam com tanta facilidade. Hansen quer esconder a questão da segurança; nós queremos elevá-la no treinamento e na construção do nosso movimento. É por isso que achamos necessário reabrir as páginas da história do trotskismo para explicar os motivos pelos quais foram tomadas medidas contra Wohlforth e por que medidas semelhantes serão tomadas novamente no futuro, se houver necessidade. [19]

Reabrir as páginas da história exigia, antes de tudo, abordar os eventos que levaram à morte de Trotsky.

O assassinato de Leon Trotsky

O assassinato de Leon Trotsky foi o assassinato político mais importante do século XX. Foi ponto culminante da criminosa conspiração da GPU, que se estendeu por muitos anos e muitos continentes, envolvendo inúmeros agentes e recursos quase infinitos. Foi a expressão máxima do caráter contrarrevolucionário da reação stalinista.

Foi o produto do Grande Terror, a guerra civil preventiva por meio da qual Stalin e a casta burocrática liquidaram gerações de socialistas e figuras importantes da vida intelectual, científica e cultural. Centenas de milhares de opositores do regime e simpatizantes da Oposição de Esquerda e da Quarta Internacional foram assassinados.

A maior parte da liderança do Partido Comunista da União Soviética, incluindo quase todos os antigos bolcheviques, foi morta. 90% da liderança do Exército Vermelho foi assassinada. Os revolucionários foram presos e torturados em masmorras por toda a Espanha, onde os stalinistas sufocaram a revolução e abriram o caminho para Franco. Uma seção inteira de Lubianka, a sede da GPU, foi montada para planejar o assassinato de Trotsky. O impacto cultural e político do Grande Terror ainda é sentido hoje.

Em 1975, Trotsky tinha sido assassinato há apenas 35 anos. Naquela época, sabia-se muito pouco sobre como a GPU havia matado Trotsky, embora o SWP tenha publicado o panfleto do advogado trotskista Albert Goldman, The Assassination of Leon Trotsky: The Proofs of Stalin’s Guilt [O Assassinato de Leon Trotsky: As Provas da Culpa de Stalin], menos de dois meses após o assassinato.

Quando foi preso, o assassino estava usando o nome Frank Jacson. Seu verdadeiro nome, Ramón Mercader, foi finalmente divulgado em 1950 devido ao trabalho do criminologista mexicano Alfonzo Quiroz Cuaron, que mais tarde seria entrevistado por David North como parte da investigação que o CI estava prestes a iniciar.

O pouco que foi feito após a publicação do panfleto de Goldman para descobrir os fatos que envolveram o assassinato de Trotsky deveu-se, em grande parte, ao papel desempenhado pelo SWP, o partido responsável por garantir a segurança de Trotsky no México. Como resultado, figuras como Mark Zborowski e Sylvia Callen continuaram seu trabalho no movimento por muitos anos, transmitindo à GPU todas as informações que chegavam à mesa de James P. Cannon. Sylvia Callen e depois Sylvia Ageloff se afastaram da política e tiveram uma vida longa e confortável.

O Sexto Congresso do CI decide iniciar a Segurança e a Quarta Internacional, propondo uma comissão paritária com a Secretariado Unificado

No Sexto Congresso do Comitê Internacional, realizado no final de maio de 1975, o CI iniciou a investigação Segurança e a Quarta Internacional. Em 29 de maio, imediatamente após o encerramento do congresso, Cliff Slaughter escreveu a Hansen propondo ao Secretariado Unificado pablista, ao qual o SWP era filiado, o estabelecimento de uma comissão de controle paritária para investigar a penetração estatal no movimento operário. A proposta não foi feita com o objetivo de encobrir as diferenças políticas entre os pablistas e o CI, e não foi um passo em direção à reunificação. Em vez disso, foi uma tentativa de encontrar um terreno comum para investigar questões de história e segurança do partido, assuntos que qualquer socialista teria reconhecido como necessários para investigar, especialmente à luz das recentes revelações sobre a vigilância estatal.

Essa proposta foi imediatamente rejeitada por Hansen em uma carta de 5 de junho de 1975, que exemplificava o cinismo que caracterizava seu trabalho. Hansen zombou do fato de Slaughter ter assinado sua carta propondo a comissão paritária, sugerindo que isso indicava que Slaughter era um agente.

Hansen escreveu: “Tenho certeza de que o seu Comitê Central, em vista de sua experiência em tais assuntos, reconhecerá a necessidade de estar alerta a pistas aparentemente insignificantes como essas. Elas podem levar à identificação de um agente infiltrado na organização pela polícia ou pela CIA. ... Talvez isso o ajude a localizar o agente da polícia, caso tenha sido escrito por um deles.” [20]

É notável que Wohlforth tenha concluído sua declaração de 29 de setembro de 1974 fazendo uma inferência semelhante.

As descobertas iniciais da Segurança e a Quarta Internacional

O CI publicou as descobertas iniciais da investigação Segurança e a Quarta Internacional em uma série de 19 artigos no jornal do WRP, o Workers Press, em agosto e setembro de 1975.

As descobertas documentaram como o SWP havia sistematicamente encoberto o papel dos agentes da GPU em seu meio. Também incluiu a publicação de documentos dos Arquivos Nacionais mostrando que Joseph Hansen havia iniciado um contato com o Departamento de Estado dos EUA e o FBI dias após a morte de Trotsky.

Aqui podemos apenas resumir brevemente todos os documentos publicados por Segurança e a Quarta Internacional relacionados às reuniões de Hansen com o governo dos EUA. Essas reuniões foram cuidadosamente acompanhadas nos níveis mais altos do Estado, inclusive pelo diretor do FBI, J. Edgar Hoover. Os principais contatos de Hansen incluíam figuras importantes como George P. Shaw, Robert McGregor e B.E. Sackett.

Em sua primeira reunião, Hansen forneceu ao governo informações sobre o assassinato de Trotsky. Nessa ocasião, Hansen comunicou ao governo dos EUA que havia se encontrado, em 1938, com agentes da polícia secreta de Stalin. O relatório de McGregor, da reunião de 31 de agosto de 1940, registrou que Hansen disse que “ele próprio foi abordado por um agente da GPU e lhe foi pedido que abandonasse a Quarta Internacional e se unisse à Terceira”. O relatório afirma que Hansen se reuniu com um agente da GPU chamado “John”, também conhecido como Dr. Gregory Rabinowitz, líder da rede de espionagem da GPU em Nova York, por três meses. [21]

Joseph Hansen (à esquerda) com Trotsky e sua esposa em Coyoacan, no México.

Hansen forneceu ao governo dos EUA cópias dos escritos inéditos de Trotsky, uma cópia do Memorando “W” – uma lista de nomes de agentes da GPU que o SWP havia recebido do ex-membro do Partido Comunista Whittaker Chambers – e informações sobre a investigação interna do SWP sobre o assassinato de Trotsky.

A investigação Segurança e a Quarta Internacional também revelaria que, em 25 de setembro de 1940, o cônsul americano no México, George P. Shaw, escreveu para o alto funcionário do Departamento de Estado, Raymond E. Murphy, dizendo que Joseph Hansen “quer ser colocado em contato com alguém” para passar “informações confidenciais... impunemente”. O diretor do FBI, J. Edgar Hoover, respondeu positivamente e incentivou seus homens a entrar em contato com Hansen, escrevendo em 1º de outubro: “Se Hansen ligar para o escritório de Nova York, ele deve ser tratado cuidadosamente e todas as informações que ele puder fornecer e sua ajuda nesta investigação devem ser obtidas”. [22]

A carta de 28 de setembro de 1940 enviada pelo alto funcionário do Departamento de Estado, Raymond E. Murphy, ao cônsul americano na Cidade do México, George Shaw, instruindo Shaw a dizer a Joseph Hansen para “entrar em contato com o Sr. B.E. Sackett” (à direita), que é o “agente encarregado do Distrito de Nova York do Escritório Federal de Investigação (FBI)”.

Nada disso era do conhecimento de qualquer membro importante do SWP, como a investigação estabeleceria mais tarde. As justificativas de Hansen para suas reuniões com o FBI e com a GPU também se revelaram falsas. A ausência de Hansen na lista de 29 líderes do SWP processados pelo governo Roosevelt por sedição em 1941 só pode ser explicada pelo relacionamento que havia iniciado com o Estado. Desde então, o CI estabeleceu que os procuradores basearam seu caso na proximidade do SWP com Trotsky no México e apresentaram todas as provas que puderam obter, mostrando a proximidade do SWP com Trotsky em Coyoacán.

Hansen, que esteve lá por três anos, teria sido fundamental para estabelecer essa relação. No entanto, Hoover estava preocupado principalmente com a possibilidade de que seus agentes fossem expostos durante o julgamento. Em um determinado momento do julgamento, o promotor mencionou Hansen de passagem, referindo-se a ele como “Joe”.

“Joseph Hansen: Cúmplice da GPU”

O Comitê Internacional não acusou Hansen de ser um agente quando iniciou a investigação Segurança e a Quarta Internacional. Em vez disso, o CI acusou Hansen e o SWP “de negligência criminosa em relação às implicações de segurança decorrentes da morte de Trotsky e das tarefas de segurança revolucionária em relação à defesa da Quarta Internacional”. Hansen e George Novack “encobriram as circunstâncias que envolveram o assassinato de Trotsky”, escreveu o CI. “Eles permaneceram em silêncio sobre os agentes stalinistas que penetraram em suas próprias fileiras. Isso não foi um descuido. É uma política consciente e deliberada.” [23]

Agentes stalinistas expostos pela investigação Segurança e a Quarta Internacional por seu envolvimento no assassinato de Trotsky. No sentido horário, a partir do canto superior esquerdo: Mark Zborowski, Sylvia Callen, os irmãos Soblevicius, Jack e Robert, Thomas L. Black, Sylvia Ageloff, Robert Sheldon Harte.

Hansen encobriu não apenas seus próprios vínculos com a GPU e o FBI, mas também outros agentes da GPU que trabalhavam na Quarta Internacional. Entre eles estavam:

  • Mark Zborowski, cujo julgamento por falso testemunho em 1958 o SWP não cobriu no Militant.
  • Sylvia Callen (Caldwell ou Franklin), que foi secretária de Cannon por nove anos e que foi denunciada como agente da GPU por Louis Budenz, primeiro em 1947 e depois mais explicitamente em 1950. O SWP havia recebido provas incontestáveis de seu papel em março de 1947 devido a uma denúncia de Max Shachtman e Albert Glotzer, mas encobriu seu papel em uma falsa comissão de controle realizada em maio daquele ano.
  • Os irmãos Soblevicius, Jack Soble e Robert Soblen, que primeiro atuaram como agentes da Oposição de Esquerda na Alemanha no início da década de 1930, usando os nomes Senin e Well, e depois espionaram o movimento trotskista nos Estados Unidos após migrarem para lá. Sylvia Callen também foi citada como cúmplice não indiciada em 1960, quando Robert Soblen foi processado por espionagem atômica. Mais uma vez, Hansen e o SWP se recusaram a cobrir o julgamento de Soblen, que confirmou seu papel na vigilância do movimento trotskista e terminou com sua condenação em 1961.
  • Floyd Cleveland Miller, um proeminente ex-membro do SWP, também foi listado como um cúmplice não indiciado da GPU no caso Soblen e testemunhou que forneceu informações à GPU sobre fuzileiros navais mercantes trotskistas em navios com destino à União Soviética.
  • Thomas Black, um agente stalinista que testemunhou perante um comitê do Senado em 1956, revelou que havia vários agentes da GPU operando na casa de Trotsky no México. O SWP nunca conduziu qualquer investigação sobre o testemunho de Black.
  • Robert Sheldon Harte, que mais tarde seria revelado como um agente da GPU nos Documentos do Projeto Venona [programa de contra-inteligência dos EUA contra a URSS entre 1943 e 1980], foi o guarda que permitiu que a equipe de assassinato liderada por David Alfaro Siqueiros entrasse na vila de Trotsky em 24 de maio de 1940. Ele foi morto pela GPU para impedi-lo de falar.
  • Embora não tenha sido mencionado com tanta ênfase no ano de 1975, agora podemos acrescentar Sylvia Ageloff a essa lista. O depoimento público de Ageloff em 1950 perante o Comitê de Atividades Antiamericanas da Câmara também não recebeu atenção da imprensa do SWP. Em um artigo de 15 de fevereiro de 1941 no Militant, Hansen se referiu a Ageloff como tendo sido “conhecida pelos amigos de Trotsky há anos como confiável e leal”, ajudando a estabelecer o mito da “pobre Sylvia”.

Em especial, durante o julgamento de Robert Soblen, o chefe de espionagem da GPU, Jack Soble, testemunhou que havia 10 agentes operando dentro do movimento trotskista sob seu controle. Seis haviam sido nomeados publicamente, mas não os outros quatro. A direção do SWP não teve interesse em descobrir quem eram os outros agentes, em grande parte porque o próprio Hansen era um deles.

Em agosto do ano de 1975, o camarada North localizou Zborowski do lado de fora de sua casa em São Francisco, onde vivia em uma confortável semi-aposentadoria depois de ter sido professor no departamento de antropologia da Universidade da Califórnia em Berkeley.

Como parte da investigação, David North localizou e fotografou Mark Zborowski e sua esposa Regina em São Francisco, em agosto de 1975. [Photo: David North/WSWS]

North fotografou Zborowski com sua esposa Regina. Zborowski atacou North enquanto Regina ameaçava: “Você não pode fazer nada com essas fotos se souber o que é bom para você”. Hansen chamou a investigação sobre Zborowski de “poço vazio”. [24]

Hansen e Novack defendem os agentes da GPU

Mas a resposta de Hansen ao pedido de uma comissão paritária apenas levantou mais dúvidas sobre o papel que ele estava desempenhando. Na edição de 24 de novembro de 1975 da Intercontinental Press, Hansen rejeitou novamente o pedido de uma comissão paritária para investigar a segurança e as circunstâncias do assassinato de Trotsky. Ele denunciou a Segurança e a Quarta Internacional como um “gêiser de lama” e defendeu descaradamente Sylvia Callen, Robert Sheldon Harte e Sylvia Ageloff.

Sobre Franklin-Caldwell-Callen, ele escreveu: “Sylvia Caldwell (esse era o seu nome no partido) trabalhou arduamente em sua difícil tarefa de administrar o escritório do SWP, o que incluía ajudar Cannon como secretária. Na verdade, todos os companheiros que dividiam com ela essas tarefas, muitas vezes incômodas, consideravam-na exemplar. Eles se queimaram tanto quanto ela com as calúnias infames espalhadas por Budenz.” [25]

Ele defendeu Harte como vítima de ataques maliciosos e inocente das acusações de ter sido um agente da GPU, embora isso já tenha sido definitivamente comprovado. Notavelmente, Hansen também apresentou Ageloff como uma vítima inocente.

“O odor das antigas calúnias da GPU contra Harte, pelo que vemos, ainda persiste na sede do WRP”, escreveu ele. “Não há nenhuma suspeita de que Harte possa ter sido vítima de Jacson da mesma forma que Sylvia Ageloff foi vítima. Não se admite a possibilidade de Harte ter sido iludido a tomar Jacson como um amigo confiável, assim como Ageloff, que se apaixonou por Jacson, foi iludida a acreditar que seu amor era recíproco.” [26]

Hansen chamou Ageloff de “um membro de confiança do movimento trotskista que não tinha a menor ideia de sua verdadeira identidade” [27], repetindo a afirmação que ele publicou pela primeira vez em 1941. Ao fazer isso, ele ajudou a solidificar o mito da “pobre Sylvia”, que agora descobrimos ter sido inventado para protegê-la e blindar a rede da GPU por trás dela e de Mercader.

Na edição de 8 de dezembro de 1975 da Intercontinental Press, George Novack, um dos principais membros do SWP que ajudou Zborowski a entrar nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial e que encobriu esse fato por 30 anos, atacou as “alegações imprudentes e indiscriminadas” de Healy contra “Sylvia Caldwell, secretária de Cannon”, escrevendo que “vale tudo em seus esforços frenéticos para lançar uma rede de suspeitas em torno de Joseph Hansen e seus colegas”. [28]

Em 23 de dezembro de 1975, o ex-guarda de Trotsky, Harold Robins, publicou uma carta aberta ao Comitê Nacional do SWP, organização à qual ele pertencia. Robins, que acompanharia o camarada North em duas viagens à Cidade do México para reconstruir os ataques à vida de Trotsky, exigiu que o SWP repudiasse o artigo de Hansen de 24 de novembro de 1975. Robins escreveu para o SWP:

O papel dos espiões no movimento operário, da incriminação de militantes sindicais e da perseguição até a morte de opositores sociais do capitalismo nas mãos dos Estados capitalistas e pré-capitalistas remonta a todo o curso da sociedade de classes. Sempre – sem nenhuma exceção – a questão da “segurança” teve de estar necessariamente na pauta dos rebeldes e revolucionários. Os pontos de vista do camarada Hansen adotam uma “linha” diametralmente oposta. Vocês podem continuar seguindo essa política? [29]

O SWP não respondeu a essa carta. Em janeiro de 1976, o Comitê Internacional publicou uma acusação pública contra Hansen, chamando-o de “cúmplice da GPU”. Pouco depois, no início de 1976, o SWP publicou uma coletânea de ensaios em homenagem à vida de James P. Cannon, que havia falecido em agosto de 1974, na qual a esposa de Joseph Hansen, Reba Hansen, referiu-se a Callen como alguém cuja “devoção ao movimento e sua disposição para trabalhar longas horas de trabalho árduo inspiravam a todos nós. Sylvia e eu nos tornamos colaboradoras próximas e boas amigas pessoais. Ela era um ser humano caloroso.” [30]

O SWP não só rejeitou o pedido de uma comissão paritária, como também mobilizou o movimento pablista mundial contra o Comitê Internacional. Em setembro de 1976, eles publicaram um falso “veredicto” declarando Hansen e Novack inocentes.

Em dezembro de 1976, o SWP publicou um panfleto intitulado Healy’s Big Lie [A Grande Mentira de Healy], que começava com uma introdução de Wohlforth chamando a Segurança e a Quarta Internacional de uma “bizarra caça às bruxas que Healy lançou contra Nancy Fields, acusando-a de ser uma ‘agente da CIA’. Quando Fields enfrentou a intimidação de Healy e eu a apoiei, fomos denunciados em termos histéricos.” [31] Isso foi, é claro, uma falsificação total de como eles deixaram o movimento.

Wohlforth, Hansen e a Plataforma da Vergonha

Na imprensa do SWP, Wohlforth elogiou Hansen e aprofundou seus ataques ao CI. Ele escreveu: “já tendo começado a reconsiderar várias questões políticas, Nancy Fields e eu ficamos impressionados com a avaliação de Hansen. Isso deu início a um processo de discussão e colaboração que nos levou a ingressar no SWP no início de 1976.” Ele concluiu: “A semelhança entre os métodos de Healy e os de Stalin nos Processos de Moscou é impressionante”. Ele chamou Hansen de “revolucionário altruísta”. [32]

O rápido ingresso de Wohlforth e Fields no SWP levanta questões sobre o passado político de Fields. Ela se gabava de ser próxima dos Panteras Negras e disse ao Militant que, quando estava na Western Reserve University, em Cleveland, “assistiu a algumas aulas que um membro da YSA [Young Socialist Alliance, a organização de juventude do SWP], John McCann, estava dando no campus”. Nessa entrevista, publicada em 7 de maio de 1976, ela disse que, durante todo o seu tempo na Workers League, “sempre gostou de Fred Halsted”, o candidato presidencial do SWP em 1968, e “achava que a campanha de Linda Jenness era importante”. [33] Jenness foi a candidata do SWP à presidência em 1972.

Mais tarde, Nancy Wohlforth tornou-se membro da diretoria executiva da AFL-CIO e uma ativista do Partido Democrata.

Após a publicação de Healy’s Big Lie, o movimento pablista mundial realizou um evento em 14 de janeiro de 1977 no Friends Hall, em Londres, que o Comitê Internacional chamou de Plataforma da Vergonha. Os líderes do movimento pablista mundial se reuniram para denunciar a Segurança e a Quarta Internacional em termos histéricos, com Wohlforth como orador principal. Quando o líder do WRP, Gerry Healy, levantou a mão, no final da reunião, para responder às calúnias contra ele e o movimento, foi-lhe negado o direito de falar. Tariq Ali, um dos principais pablistas britânicos, tentou silenciá-lo, liderando a multidão em coro.

Em 14 de janeiro de 1977, os pablistas realizaram um grande evento público em Londres para denunciar a Segurança e a Quarta Internacional e Gerry Healy, em particular. Quando Healy se levantou para falar, ele foi impedido. O evento entrou para a história como a “Plataforma da Vergonha”.

Até mesmo a imprensa burguesa reconheceu o caráter vergonhoso do evento pablista. O Sunday Observer relatou: “O Sr. Healy voltou a se sentar calmamente, sentindo que talvez tivesse defendido seu ponto de vista de forma mais eloquente do que qualquer palavra poderia ter feito”. [34] O Newsline, do WRP, escreveu: “Ao evitar todas as questões principais, o evento apenas intensificou a crise. Ele não resolveu nada.” [35]

O Comitê Internacional escreveu sobre o evento:

Aqueles que conhecem a história da luta contra o revisionismo terão dificuldade em reprimir o desejo espontâneo de vomitar diante da temeridade dos organizadores que defendem as atividades criminosas da GPU e de seus cúmplices sob a bandeira de uma falsa “democracia operária”... a exposição dos crimes de Stalin e da cumplicidade dos revisionistas no encobrimento desses crimes é fundamental para a preparação de um novo quadro de revolucionários. Aqueles que se opõem a essa tarefa, seja qual for a forma, estão servindo aos interesses do stalinismo contrarrevolucionário. Fomos avisados. [36]

O CI localiza Sylvia Franklin-Caldwell-Callen-Doxsee

O Comitê Internacional continuou sua investigação. Em maio de 1977, David North e Alex Mitchell localizaram Sylvia Callen em Wheaton, no estado de Illinois.

Quando perguntada sobre seu passado político, Callen reconheceu ter trabalhado como secretária de Cannon, mas procurou deixar de lado seus anos no SWP como um episódio menor em sua vida. O Bulletin, o jornal da Workers League, relatou em 31 de maio de 1977 que ela disse: “Não vejo por que isso é importante. Eu nunca estive realmente envolvida com política. Nunca li. Nunca entendi. Eu era apenas uma criança imatura, isso é tudo o que posso dizer... É como se eu tivesse esquecido. Todo esse período de minha vida.” [37]

Sylvia Franklin, fotografada pelo Comitê Internacional em 1977.

Sobre Cannon, Callen disse: “Ele não era um homem importante, na minha opinião. Ele é? Que papel ele desempenhou no mundo?” Quando o camarada North perguntou por que ela foi indiciada como participante de uma rede de espionagem da GPU, Callen disse que não se lembrava. [38]

Naquele verão, North também entrevistou Felix Morrow, ex-membro do Comitê Nacional do SWP, que foi um dos 18 membros do SWP presos por sedição após o julgamento da Lei Smith de 1941. Morrow disse a North que não houve esforços oficiais da direção do partido para entrar em contato com o governo americano após o assassinato de Trotsky. “Nenhum”, disse Morrow a North. “Eles não estavam envolvidos de forma alguma”. [39] As comunicações de Hansen com o Departamento de Estado e o FBI eram para fins pessoais e ocorriam em segredo, pelas costas da direção do SWP.

Mais tarde, em um depoimento ordenado por uma juíza no caso Gelfand, os dirigentes do SWP Farrell Dobbs e Morris Lewit também declarariam que não tinham conhecimento das reuniões de Hansen com o FBI. O castelo de cartas de Hansen estava caindo.

Após a publicação da entrevista com Callen, em 31 de maio de 1977, Hansen respondeu em um artigo da Intercontinental Press, em 20 de junho de 1977, intitulado Healyites Escalate Frame-up of Trotskyist Leaders [Seguidores de Healy Intensificam Armação de Líderes Trotskistas]. No artigo, Hansen tentou lançar dúvidas sobre o que ele chamou de “suposta” entrevista com Callen, afirmando que o CIQI havia “intensificado suas calúnias sobre a direção do SWP”. [40]

Hansen atacou a investigação Segurança e a Quarta Internacional ridicularizando a alegação de que Callen era um agente. Em seu artigo de 20 de junho de 1977, Hansen escreveu: “Os membros desse seleto corpo de caçadores de bruxas [ou seja, o CIQI] se comprometem com uma calúnia que antes apenas insinuavam, ou seja, que a comissão de controle criada pelo SWP em 1947 para examinar os rumores que circulavam sobre Caldwell [ou seja, Callen] foi ‘manipulada’.” [41]

A comissão de controle do SWP de maio-junho de 1947 foi manipulada, conforme estabelecido em uma série de artigos do WSWS de 2018. Essa comissão de controle ouviu informações devastadoras apresentadas ao SWP de que Sylvia Callen era uma agente da GPU. Em vez de investigar as alegações, a comissão encobriu o papel de Callen como agente e jurou segredo aos presentes.

Hansen também escreveu: “Os seguidores de Healy são perfeitamente capazes de iniciar a violência física contra outros setores do movimento operário”. Ele ameaçou o Comitê Internacional, avisando que a investigação traria “consequências mortais”. [42]

O assassinato do camarada Tom Henehan

Nas primeiras horas da manhã de 16 de outubro de 1977, a ameaça de Hansen se tornou realidade. O camarada Tom Henehan foi baleado e morto em Nova York por dois assassinos enquanto supervisionava um evento do partido no Ponce Social Club. Tom tinha 26 anos.

Tom Henehan, em junho de 1977.

A Workers League imediatamente lançou uma campanha exigindo a prisão dos dois assassinos e uma investigação sobre quem estava por trás do crime. Os assassinos foram rapidamente identificados como Edwin Sequinot e Angelo Torres, mas a polícia da cidade de Nova York se recusou a prendê-los. A imprensa imediatamente se referiu ao caso como um “assassinato sem sentido”. O detetive da polícia John Mohl disse ao Detroit Free Press: “Sabemos quem fez isso e posso garantir que não houve nenhuma motivação política”.

Foram necessários três anos de campanha para mobilizar o movimento operário e conseguir que os assassinos fossem presos. A Workers League exigiu que o promotor público do Brooklyn, Eugene Gold, prendesse os assassinos e investigasse o assassinato. Fez campanha entre a classe trabalhadora e os sindicatos, recolhendo assinaturas e enviando cartas exigindo que o promotor Gold tomasse medidas. As cartas foram enviadas por sindicatos que representavam mais de um milhão de filiados. Entre os signatários estavam Anthony Mazzochi, William Winpisinger, Gary Tyler, Ed Asner e representantes da American Civil Liberties Union (ACLU), do Irish Republican Army (IRA), da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e do American Indian Movement (AIM). Em outubro de 1980, a polícia finalmente cedeu à pressão crescente e prendeu Torres e Sequinot. Eles foram considerados culpados em 1981, mas não revelaram quem estava por trás de suas ações. Seu defensor público disse ao partido: “O que se dizia nas ruas era que tinha sido um crime encomendado”.

Os Doze de Carleton

Infelizmente, não há tempo suficiente para revisar a campanha após o assassinato do camarada Henehan, ou para relatar com detalhes suficientes cada golpe desferido pela Segurança e a Quarta Internacional ao movimento pablista nos anos que se seguiram. Em 1979, o Comitê Internacional expôs o fato de que quase toda direção do SWP se formou na Carleton College, uma pequena faculdade particular na zona rural de Northfield, em Minnesota.

Como afirma o documento histórico do Partido Socialista pela Igualdade (SEP) dos EUA:

Outro conjunto peculiar de fatos surgiu como um subproduto da investigação Segurança e a Quarta Internacional. Praticamente toda a direção central do Socialist Workers Party – incluindo a maioria de seu comitê político – havia frequentado a Carleton College, uma pequena faculdade de artes liberais no Meio-Oeste. Não havia registros de que o SWP tivesse realizado qualquer trabalho sistemático no campus de Carleton durante o período entre 1960 e 1964, quando tantos de seus alunos, incluindo Jack Barnes, ingressaram no partido e foram rapidamente promovidos à sua direção. O meio de sua transformação de estudantes conservadores do Meio-Oeste (Jack Barnes era republicano) em dirigentes de uma organização supostamente revolucionária foi o Fair Play for Cuba Committee [Comitê para o Tratamento Justo de Cuba, em tradução livre], que era manipulado e repleto de agentes do FBI. Nenhuma explicação plausível foi fornecida pela direção do SWP para o fenômeno da Carleton College. [43]

O caso Gelfand

Outro marco na investigação foi o caso Gelfand, uma ação judicial iniciada em 1979 pelo então membro do SWP Alan Gelfand, que foi expulso do partido por levantar questões sobre a Segurança e a Quarta Internacional. Gelfand e seus advogados conseguiram forçar os depoimentos de muitos membros importantes do SWP, o que aumentou as evidências de infiltração generalizada na organização.

No ano anterior, em dezembro de 1978, Gelfand havia apresentado um amicus curiae em apoio a uma ação judicial movida pelo SWP relacionada à vigilância do movimento pelo FBI por meio do COINTELPRO. Essa ação judicial, que havia sido iniciada pelo SWP principalmente como uma atividade de arrecadação de fundos, não estava sendo conduzida com a intenção de expor agentes passados ou ainda ativos dentro do partido. Na verdade, o governo dos EUA acabou por resolver o caso pagando ao SWP centenas de milhares de dólares, sem identificar um único agente que tivesse se infiltrado no partido. No decorrer do julgamento, o FBI admitiu que, entre 1960 e 1976, havia 300 informantes atuando como membros do SWP.

A ação judicial de Gelfand argumentava que seus direitos garantidos pela Primeira Emenda foram violados quando ele foi expulso de um partido dirigido por agentes do governo. A ação conseguiu garantir a divulgação do depoimento de Sylvia Callen ao grande júri em 1958, no qual ela admitiu ter sido agente da GPU. A juíza Mariana Pfaelzer, após uma longa demora, finalmente forneceu ao advogado de Gelfand, John Burton, a informação definitiva de que o SWP estava encobrindo uma agente da GPU, e todos os seus esforços para mentir ou distorcer meias verdades eram apenas isso. A juíza apresentou esse depoimento ao grande júri logo após o dirigente do SWP, Jack Barnes, declarar em tribunal que Sylvia Callen era sua “heroína” por tudo o que ela sofreu devido às acusações do Comitê Internacional. Durante todo esse tempo, o SWP estava defendendo um agente da GPU.

A carta de 9 de junho de 1976 de Vaughn T. O’Brien

A divulgação do depoimento de Sylvia Callen ao grande júri também coincidiu com a divulgação do texto completo da carta de 8 de junho de 1976 enviada a Hansen por Vaughn T. O’Brien, amigo de infância de Hansen de Utah. Hansen citou parte da carta na Intercontinental Press em sua tentativa de justificar seus encontros anteriores com a GPU, inicialmente alegando falsamente que eles foram conduzidos sob as instruções de Trotsky, a fim de enganar a GPU e fazê-la pagar US$ 25.000 por uma cópia da biografia de Stalin escrita por Trotsky.

Hansen não citou a carta completa de O'Brien, no entanto, e graças ao caso Gelfand agora sabemos por quê. A carta, cuja divulgação foi ordenada pela juíza Pfaelzer, incluía uma revelação surpreendente. Em uma seção da carta não citada publicamente por Hansen, O’Brien relembrou a Hansen um encontro que teve no final da década de 1940 ou início da década de 1950 – o período em que a comissão de controle do SWP encobriu Sylvia Callen e a publicação do livro de Louis Budenz que a identificava como agente. O encontro com O’Brien ocorreu com Pearl Kluger, ex-membro do American Workers Party de A.J. Muste, que conhecia Budenz pessoalmente. O’Brien escreveu: “Eu não via Pearl há um bom tempo, mas ela imediatamente disse: ‘Budenz diz que seu amigo Joe Hansen trabalhou com a GPU’”. [44]

Isso revelou que Hansen e o SWP tiveram que defender Callen porque foi Budenz quem originalmente a expôs, e se suas advertências estivessem corretas, isso também teria servido como mais uma prova do papel de Hansen como agente da GPU. Para proteger Hansen, ele, Barnes e o SWP defenderam Callen como sua “camarada exemplar”. Embora Budenz tenha divulgado publicamente as informações sobre Callen, ele não revelou o que sabia sobre Hansen, que naquela época já havia se tornado um agente do imperialismo americano.

O caso Gelfand também incluiu outra revelação impressionante sobre a transformação do SWP. Durante o julgamento, pela primeira vez, Gelfand conseguiu forçar o depoimento de Mark Zborowski. Mas o SWP ajudou os advogados de Zborowski a entrar com uma moção para anular sua intimação e Jack Barnes disse que Zborowski tinha o direito democrático de não falar ao tribunal. Como resultado, o SWP impediu que Zborowski fosse forçado a responder pela primeira vez por seus crimes contra o movimento trotskista.

A CIA também queria impedir Zborowski de testemunhar e impedir que a verdade sobre outros agentes vazasse durante o julgamento. Um memorando de 11 de junho de 1982 do conselheiro geral da Agência Central de Inteligência, Stanley Sporkin, ao diretor da CIA, William J. Casey, citou o caso Gelfand como um “item de grande interesse” para a CIA. Um memorando da CIA recentemente descoberto diz:

Em Gelfand vs. Procurador-Geral, Diretor de Inteligência Central [DCI, na sigla em inglês], et al., Gelfand alega que supostos agentes da CIA e do FBI no SWP o expulsaram do partido. Na fase de instrução pré-julgamento, Gelfand perguntou por escrito ao DCI se 19 membros identificados do SWP são ou foram agentes da CIA e se a CIA acredita que um indivíduo identificado é um agente da inteligência soviética. [45]

O papel da Segurança e da Quarta Internacional na ruptura com o WRP

As revelações tornadas públicas pelo caso Gelfand quase não foram divulgadas pelo Workers Revolutionary Party (WRP). Quando o caso foi concluído, no início de 1983, o WRP havia praticamente deixado de prestar atenção à Segurança e a Quarta Internacional. Seu papel no desenvolvimento da investigação tinha terminado. Isso coincidiu com a crescente adaptação do WRP à política nacionalista pablista no período que antecedeu o racha.

No final de 1985, quando a crise eclodiu dentro do WRP, a fração da direção do WRP liderada por Banda e Slaughter atacou abertamente a Segurança e a Quarta Internacional, a investigação que eles próprios haviam aprovado e participado ativamente em meados da década de 1970.

Em 26 de novembro de 1985, sem qualquer discussão com o Comitê Internacional, do qual ele ainda fazia parte na época, Cliff Slaughter apareceu em uma reunião de pablistas e stalinistas e denunciou a Segurança e a Quarta Internacional antes de apertar a mão do proeminente stalinista Monty Johnstone. Apenas algumas semanas antes, Slaughter havia defendido a Segurança e a Quarta Internacional em uma reunião do Comitê Político da Workers League.

Em 11 de dezembro de 1985, a Workers League escreveu ao Comitê Central do WRP:

O que aconteceu no Friends Hall não foi um evento; foi uma perspectiva. O que foi revelado nesse evento foi um movimento em direção ao que o SWP outrora chamou de “reagrupamento” – ou seja, o abandono do trotskismo em favor de alianças sem princípios com radicais, revisionistas e stalinistas de todos os tipos. [46]

À medida que avançavam em direção à renúncia explícita ao trotskismo, Slaughter e Banda denunciaram o CI e o camarada North, alegando que a Segurança e a Quarta Internacional marcava uma “mudança na luta internacional contra o revisionismo”. Slaughter e Banda apresentaram a Segurança e a Quarta Internacional como a prova central de sua chamada teoria da “degeneração igualitária”, que afirmava que todo o movimento internacional e todas as suas seções eram tão podres quanto o WRP.

Em dezembro de 1985, o Comitê Central do WRP solicitou uma investigação sobre a Segurança e a Quarta Internacional e exigiu “uma comissão internacional de investigação sobre a penetração do Estado no movimento trotskista, publicamente”. Essa exigência espantosa de investigar o CI e todas as suas seções foi uma tentativa cínica de distorcer a exigência levantada pelo CI (e apoiada por Banda e Slaughter) em maio de 1975 de uma comissão de investigação sobre a infiltração no SWP e virá-la contra o CI.

Slaughter e Banda alinham-se com o SWP

Agora voltamos às origens da Segurança e da Quarta Internacional. No início de 1986, tanto Slaughter quanto Banda pediram uma reavaliação da experiência com Tim Wohlforth, com Slaughter tentando contatá-lo e Banda declarando em suas 27 Razões Pelas Quais o Comitê Internacional Deve Ser Enterrado e a Quarta Internacional Construída que “a crise com Wohlforth foi artificialmente exacerbada por Healy com seus delírios paranóicos sobre segurança e seu total fracasso em lidar com os problemas de perspectiva e política da Workers League. A questão de Nancy Fields foi exagerada e distorcida de forma desproporcional.” [47]

Na infame Resolução 1 do Comitê Central do WRP, emitida em 26 de janeiro de 1986, o WRP denunciou o CI e resolveu que a “Segurança e a Quarta Internacional era um substituto para uma luta real contra o revisionismo e pelos princípios trotskistas, que todas as evidências apresentadas e conclusões tiradas fossem reexaminadas juntamente com o material publicado pelo SWP americano ou qualquer outra pessoa sobre essa questão”. [48]

Em 2 de fevereiro de 1986, o camarada North respondeu com uma carta aos membros do WRP intitulada In Defense of Security and the Fourth International [Em Defesa da Segurança e a Quarta Internacional]. A carta denunciava os ataques da direção do WRP à Segurança e a Quarta Internacional como “parte de um ataque mais amplo a toda a história do Comitê Internacional”, orquestrado para fins sectários e como “um pré-requisito essencial para uma reaproximação com os revisionistas”. [49]

Em 7 de fevereiro de 1986, Banda publicou suas 27 Razões, que concluíam: “Nenhuma análise do CI seria completa ou honestamente objetiva se não incluísse a manifestação mais sinistra e reacionária do healyismo no CI – Segurança e a Quarta Internacional”.

Ele chamou a Segurança e a Quarta Internacional de “uma armação monstruosa” liderada pelo “paranóico North e seus comparsas no CI”. [50]

O SWP, assim como fez com Wohlforth após sua ruptura com o trotskismo, acolheu Slaughter e Banda de braços abertos após sua ruptura com o CI e sua denúncia da Segurança e a Quarta Internacional. Em sua edição de 10 de março de 1986 da Intercontinental Press, o SWP republicou artigos do News Line [o jornal do WRP], com o graduado da Carleton College Doug Jenness escrevendo que “um golpe devastador foi desferido” contra a Segurança e a Quarta Internacional pelo ataque lançado pelos renegados do WRP. O SWP escreveu: “Ao renunciar à campanha de difamação dos agentes seguidores de Healy, esses dirigentes do WRP deram o primeiro passo necessário para que suas opiniões fossem levadas a sério como parte legítima dos debates políticos que estão ocorrendo entre os revolucionários hoje”. [51]

Em resposta à exaltação de seus antigos adversários, o camarada North escreveu uma série de artigos intitulados The Case Against the SWP – What the Facts Show [O Caso Contra o SWP – O Que os Fatos Mostram], que foram publicados em série no Bulletin de 11 a 18 de março de 1986. North escreveu:

O artigo de Banda confirma uma lei política: todos aqueles que rompem com o trotskismo imediatamente se alinham com Hansen. Para tais renegados, a denúncia da Segurança e a Quarta Internacional é um ritual obrigatório. [52]

A investigação Segurança e a Quarta Internacional constituiu uma parte significativa da atividade política cotidiana dos quadros dirigentes do partido, em particular do camarada North. Isso implicou uma imensa coleta de informações históricas. Os artigos e panfletos produzidos durante esse período foram lidos atentamente pelos membros do partido e estudados com cuidado e imenso interesse. É essencial compreender o impacto da luta durante os anos de 1974-1975 a 1983 em todos os membros do partido, o que permitiu aos quadros basear sua atividade política cotidiana na luta contra o pablismo e no âmbito da promoção de todo o conteúdo histórico do movimento trotskista. Longe de substituir a luta contra o revisionismo, ela a facilitou e aprofundou.

Não é por acaso que esse período serve como uma ponte entre dois eventos marcantes na história do movimento: a ruptura com Wohlforth e a transição para uma nova direção política, e o surgimento de diferenças em 1982 entre a Workers League e o WRP. Quando essas diferenças foram posteriormente levadas ao conhecimento dos membros da Workers League, a receptividade dos membros às críticas do camarada North ao oportunismo do WRP foi preparada, em parte, pelo impacto que a Segurança e a Quarta Internacional tiveram na consciência dos membros do partido.

Em uma carta aberta de 1987 respondendo à denúncia de Cliff Slaughter sobre o caso Gelfand, o camarada North escreveu:

A atual direção da Workers League foi formada na luta teórica e política contra Wohlforth. A defesa da herança e do programa do partido contra sua traição produziu um renascimento do trotskismo dentro da Workers League. Seus quadros só puderam derrotar Wohlforth no sentido político ao reassimilar todas as lições das lutas passadas do Comitê Internacional para construir o movimento trotskista nos Estados Unidos…

Precisamente porque a Workers League estava conduzindo a luta contra Wohlforth no mais alto plano político e teórico, ela viu as questões de segurança que surgiram em torno de Fields dentro do contexto histórico da luta internacional pelo trotskismo. A direção da Workers League ... foi atraída para a investigação Segurança e a Quarta Internacional com base nesse princípio. A Workers League nunca viu a Segurança e a Quarta Internacional como um exercício forense. Na medida em que foi obrigada a conduzir investigações, ela o fez como parte da luta para esclarecer o registro histórico e rearmar os quadros do movimento mundial com as amargas lições do passado. [53]

Foi uma prova desse processo que a Workers League conseguiu produzir, em seu documento de perspectivas de 1978, o seguinte resumo da Segurança e a Quarta Internacional:

Segurança e a Quarta Internacional representa nada menos do que a recuperação de toda a continuidade histórica do bolchevismo através da Quarta Internacional e do Comitê Internacional das garras malignas da contrarrevolução e da falsificação stalinistas. Todas as mentiras, distorções e crimes cometidos pelo stalinismo contra o trotskismo, a encarnação política da luta pela Revolução de Outubro mundial; todos os atos monstruosos cometidos para confundir e desorientar gerações de trabalhadores sobre a história real da Revolução de Outubro e o papel de Trotsky – tudo isso recebeu um golpe do qual o stalinismo e todas as agências da contrarrevolução imperialista nunca se recuperarão. [54]

Sem repostas: Segurança e a Quarta Internacional hoje

Hoje, aqueles que atacam a Segurança e a Quarta Internacional apenas passam vergonha. As evidências são esmagadoras. Susan Weissman não conseguiu responder à carta do camarada North quando defendeu Hansen, denunciou a Segurança e a Quarta Internacional e proclamou que Zborowski “deu um baile” nos advogados de Gelfand durante o caso Gelfand. Ela será lembrada por seu silêncio retumbante.

Uma nova geração de socialistas que cresceu na época da vigilância em massa da NSA, da militarização da polícia e dos ataques intermináveis aos direitos democráticos será educada em questões de segurança revolucionária pela Segurança e a Quarta Internacional. Para essa geração, os esforços para minimizar a segurança do movimento contra a infiltração do Estado parecem absurdos. Mas, precisamente por essa razão, um novo grupo de oportunistas está tentando repetir as alegações do SWP de que é absurdo se preocupar com a penetração do Estado. É por isso que Nathanial Flakin, do site morenista Left Voice [da Rede Internacional La Izquierda Diario, da qual faz parte o brasileiro Esquerda Diário], escreveu em um artigo de 23 de junho de 2022 que a Segurança e a Quarta Internacional era uma “teoria da conspiração vil” que “nunca apresentou nada além das evidências circunstanciais mais risíveis”. [55]

Flakin foi, e continuará sendo, incapaz de contestar qualquer uma das evidências reveladas pela Segurança e a Quarta Internacional. Seu objetivo é apresentar como “risíveis” as tentativas de manter a independência física do movimento revolucionário dos agentes do Estado, independentemente das evidências, pela mesma razão que os pablistas defenderam Sylvia Franklin mesmo depois que o depoimento em que ela admitia ser agente da GPU foi tornado público. Eles não se opõem à infiltração do Estado em seus movimentos porque seus movimentos não se opõem politicamente ao capitalismo e ao Estado capitalista. É notável que Flakin tenha escrito seu artigo atacando nossas evidências “ridículas” da infiltração da GPU mais de um ano depois que o World Socialist Web Site estabeleceu que Sylvia Ageloff era uma agente da GPU e uma peça fundamental na conspiração da GPU para matar Trotsky. Ele não conseguiu responder a isso. Ninguém conseguiu.

Compare a abordagem deles com a maneira como o CI explicou a Segurança e a Quarta Internacional na introdução de How the GPU Murdered Trotsky [Como a GPU Assassinou Trotsky]:

Ao referir-se a Segurança e a Quarta Internacional como uma “investigação”, deve-se compreender que essa palavra abrange apenas parcialmente todo o conteúdo político e histórico da luta travada pelo Comitê Internacional durante os últimos seis anos. Assim como a denúncia de Trotsky das armações dos Processos de Moscou de 1936-38 é a expressão consciente mais elevada do movimento objetivo da classe trabalhadora contra a burguesia e todas as suas agências. ... O desenvolvimento da investigação estabeleceu que todo o destino da Revolução Socialista Mundial depende do resultado da luta incorporada na Segurança e a Quarta Internacional…

As conclusões da investigação Segurança e a Quarta Internacional constituem uma base indispensável para a formação de quadros marxistas e uma poderosa arma material da Revolução Mundial. Os agentes que esta arma já expôs e aqueles que ela acabará por destruir politicamente representam a ponta de lança da contrarrevolução. Este fato deve ser compreendido por todos os trabalhadores e jovens com consciência de classe: todo o instinto historicamente acumulado da burguesia para a autopreservação encontra seu maior nível de consciência na elaboração de sua estratégia para destruir a direção revolucionária da classe trabalhadora. [56]

O Comitê Internacional é a única organização que defende essa análise crítica da GPU e da infiltração imperialista no movimento revolucionário, porque somos a única organização que tem como objetivo a conquista do poder. Nossa existência é o produto de uma luta sistemática e altamente consciente pela continuidade política do bolchevismo contra os agentes do Estado e seus cúmplices políticos na pseudoesquerda. Essa foi a essência política da ruptura com Wohlforth, definiu a investigação Segurança e a Quarta Internacional, guiou o CI na ruptura com o WRP e é a espinha dorsal da luta pelo socialismo hoje.

Referências

1. CLOCKWORK ORANGE (PLOT). In: WIKIPÉDIA: a enciclopédia livre. Wikimedia Foundation. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Clockwork_Orange_(plot). Acesso em: 28 jul. 2025.

2. WORKERS REVOLUTIONARY PARTY. UCPI. Disponível em: https://www.ucpi.org.uk/search-results/?fwp_search=Workers+Revolutionary+Party. Acesso em: 28 jul. 2025.

3. NORTH, David. The Heritage We Defend. Oak Park, MI: Mehring Books, 2018, Capítulo 32.

4. HERSH, Seymour. New York Times, 22 dez. 1974. Disponível em: https://timesmachine.nytimes.com/timesmachine/1974/12/22/432151792.html. Acesso em: 27 jul. de 2025.

5. WOHLFORTH, Tim. Tim Wohlforth’s letter of Resignation from the Workers League. In: Trotskyism versus Revisionism, vol. 7: The Fourth International and the Renegade Wohlforth. Detroit: Labor Publications, 1984, pp. 250–251.

6. Ibid., p. 252.

7. Ibid.

8. SLAUGHTER, Cliff. Cliff Slaughter to Tim Wohlforth. In: Trotskyism versus Revisionism, vol. 7: The Fourth International and the Renegade Wohlforth. Detroit: Labor Publications, 1984, p. 258.

9. Ibid.

10. Ibid., p. 262.

11. Ibid., p. 264.

12. FINDINGS OF THE COMMISSION OF INQUIRY. In: Trotskyism versus Revisionism, vol. 7: The Fourth International and the Renegade Wohlforth. Detroit: Labor Publications, 1984, pp. 269–70.

13. Ibid., p. 271.

14. Ibid., pp. 271-72.

15. Ibid.

16. CANNON, James P. The Struggle for a Proletarian Party. Nova York: Pathfinder Press, 1972, p. 41.

17. AN ANSWER TO THE SLANDERS OF ROBERTSON AND WOHLFORTH. In: How the GPU Murdered Trotsky. Edição eletrônica (ePub edition). Oak Park, MI: Mehring Books, 2015, p. 49.

18. HANSEN, Joseph. Healy’s Big Lie. In: Socialist Workers Party Education for Socialists, dez. 1976, p. 5.

19. COMITÊ INTERNACIONAL DA QUARTA INTERNACIONAL (CIQI). A reply to Joseph Hansen’s “The Secret of Healy’s Dialectics”. In: How the GPU Murdered Trotsky. Edição eletrônica (ePub), pp. 60–62.

20. HANSEN, Joseph. Letter from Joseph Hansen to Cliff Slaughter, June 5, 1975. In: Security and the Fourth International. Nova York: Labor Publications, 1975, p. 136.

21. GELFAND, Alan. The Gelfand Case. Vol. 1. Detroit: Labor Publications, 1985. p. 8.

22. Ibid., pp. 29–30.

23. COMITÊ INTERNACIONAL DA QUARTA INTERNACIONAL (CIQI). We charge Joseph Hansen. In: How the GPU Murdered Trotsky. Edição eletrônica (ePub), p.374.

24. HANSEN, Joseph. Healy’s Big Lie. In: Socialist Workers Party Education for Socialists, dez. 1976, p. 11.

25. Ibid., p. 9.

26. Ibid., p. 11.

27. Ibid.

28. Ibid., p. 19.

29. ROBINS, Harold. Letter from Harold Robins to the SWP National Committee. In: How the GPU Murdered Trotsky. Edição eletrônica (ePub), p. 395.

30. BARNES, James et al. James P. Cannon as We Knew Him. Nova York: Pathfinder Press, 1976, pp. 232–233.

31. HANSEN, Joseph. Healy’s Big Lie. In: Socialist Workers Party Education for Socialists, dez. 1976, p. 2.

32. Ibid.

33. Militant, 7 maio 1976, p. 17.

34. The Observer, domingo, 16 jan. 1977, p. 1.

35. Newsline, segunda-feira, 17 jan. 1977.

36. NORTH, David. The case against the SWP – What the facts show. Fourth International, vol. 13, nº 2, p. 173.

37. LONDON, Eric. AGENTS, The FBI and GPU Infiltration of the Trotskyist Movement. Oak Park, MI: Mehring Books, 2018, p. 91.

38. Ibid., pp. 91–92.

39. INTERVIEW WITH FELIX MORROW BY DAVID NORTH, JUNE 2, 1977. In: LONDON, Eric. AGENTS, The FBI and GPU Infiltration of the Trotskyist Movement. Oak Park, MI: Mehring Books, 2018, pp. 38–39.

40. HANSEN, Joseph. Healyites Escalate Frame-up of Trotskyist Leaders. Intercontinental Press, 20 jun. 1977, vol. 15, no. 23, p. 700.

41. Ibid.

42. Ibid., p. 701.

43. SOCIALIST EQUALITY PARTY. Historical and International Foundations of the Socialist Equality Party. Oak Park, MI: Mehring Books, 2008, p. 106.

44. GELFALD, Alan. The Gelfand Case. Vol. 2. Detroit: Labor Publications, 1985, p. 651.

45. June 11, 1982 memorandum from Central Intelligence Agency General Counsel Stanley Sporkin to CIA Director William J. Casey

46. NORTH, David. A Comment on the Gelfand Open Letter. Fourth International, vol. 14, nº 2, jun. 1987, p. 73.

47. Ibid., p. 439.

48. RESOLUTION 1 OF THE CENTRAL COMMITTEE OF THE WORKERS REVOLUTIONARY PARTY, JANUARY 26, 1986. Fourth International, vol. 13, nº 2, outono 1986, p. 118.

49. NORTH, David. In Defense of Security and the Fourth International. Fourth International, vol. 13, nº 2, p. 139.

50. Ibid., pp. 73-74

51. JENNESS, Doug. Giant blow to agent-baiting campaign. Intercontinental Press, vol. 24, nº 5, 10 mar. 1986, p. 147; p. 150.

52. NORTH, David. The case against the SWP – What the facts show. Fourth International, vol. 13, nº 2, p. 174.

53. Ibid., p. 81.

54. WORKERS LEAGUE. The World Economic-Political Crisis And The Death Agony Of Us Imperialism: Draft Resolution On The Perspectives And Tasks Of The Workers League. 7 nov. 1978, p. 38.

55. FLAKIN, Nathaniel. The Strange Story of Trotskyism in the Alps. Left Voice, 23 jun. 2022. Disponível em: https://www.leftvoice.org/the-strange-story-of-trotskyism-in-the-alps/. Acesso em: 27 jul. 2025.

56. How the GPU Murdered Trotsky. Edição eletrônica (ePub), pp. 13–14.

Loading