Em 29 de março, na Feira do Livro de Leipzig, na Alemanha, David North, presidente do Conselho Editorial do World Socialist Web Site e presidente nacional do Partido Socialista pela Igualdade (EUA), apresentou a recém-lançada tradução alemã de seu livro Sounding the Alarm: Socialism Against War [Soando o Alarme: Socialismo Contra a Guerra]. A obra reúne uma década de discursos proferidos por North nos atos anuais de Primeiro de Maio organizados pelo Comitê Internacional da Quarta Internacional, de 2014 a 2024, detalhando a crescente crise do capitalismo mundial e a tendência rumo à guerra global.
Devido a um acidente na linha de trem entre Berlim e Leipzig, North e Johannes Stern não puderam comparecer pessoalmente. Os comentários abaixo, feitos por North, bem como a introdução de Stern, foram lidos na Feira.
A edição em alemão, Ein Warnruf: Sozialismus gegen Krieg, pode ser encomendada aqui. A edição em inglês pode ser encomendada aqui.
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Estou muito satisfeito por mais uma vez participar da Leipzig Buch Messe e apresentar a edição em língua alemã do meu mais recente livro, Sounding the Alarm: Socialism Against War. Gostaria de agradecer ao Johannes por suas observações muito gentis. Seus elogios foram tão efusivos que Johannes tirou dos meus ombros o fardo de elogiar meu próprio trabalho.
Johannes enfatizou o que ele chamou de caráter profético dos discursos que proferi nos atos anuais de Primeiro de Maio realizados pelo movimento trotskista, do qual sou membro, entre 2014 e 2024.
Isso é um grande elogio, mas sou obrigado a me distanciar da aura mística evocada pela referência ao “caráter profético” do meu trabalho. Não sou um profeta e não possuo uma bola de cristal. Sou, ao contrário, um marxista, que tem a vantagem de trabalhar com um método científico de análise política historicamente fundamentado.
Ao escrever, tento situar os eventos em um contexto histórico mais amplo, examiná-los como momentos em um processo complexo de desenvolvimento histórico, dar menos atenção, ou até mesmo não dar atenção alguma, às justificativas dadas pelos governos e políticos para suas políticas e ações, concentrar-me nos processos econômicos objetivos que operam em escala global, examinar os interesses de classe defendidos pelos governos, e estimar, da forma mais cuidadosa e realista possível, as implicações dos conflitos crescentes entre os Estados nacionais em um sistema capitalista globalmente integrado e, por fim, avaliar o impacto da crise mundial sobre a classe trabalhadora e o potencial para a eclosão da luta de classes revolucionária, levando à derrubada do capitalismo e à reconstrução do mundo em uma base socialista.
Essa abordagem dos eventos, como acredito que meu livro demonstra, possibilitou avaliações políticas e até previsões muito precisas. De qualquer forma, o método marxista que busquei utilizar provou ser uma ferramenta de navegação e prognóstico muito mais confiável do que a combinação de impressionismo míope, pragmatismo anistórico e fé auto-ilusória no caráter eterno do capitalismo que caracteriza o trabalho de jornalistas e acadêmicos do establishment.
É tão óbvio que os políticos burgueses e os videntes da mídia previram muito pouco. No período entre 1989 e 1991, proclamaram que a dissolução da União Soviética e dos regimes stalinistas da Europa Oriental marcou o início de uma nova época de paz e democracia. Sob a hegemonia dos humanitários do imperialismo americano, o capitalismo mostraria ao mundo o que poderia realizar.
Nada saiu como o esperado. Os últimos 35 anos foram marcados por guerras sem fim que custaram a vida de milhões. O sistema capitalista cambaleou de crise em crise, sobrevivendo apenas através da implementação de resgates maciços de vários trilhões de dólares. A desigualdade social atingiu níveis historicamente sem precedentes. A devastadora pandemia de COVID-19 ceifou milhões de vidas, e a única lição tirada pelos governos capitalistas é que foi um erro, durante as primeiras semanas da pandemia, tomar até as medidas mais essenciais — como lockdowns e uso de máscara — que diminuíram os lucros das empresas. Proteger as margens de lucro é muito mais importante do que salvar vidas.
E o que dizer do destino da democracia? Em pouco mais de um mês, em 7 de maio de 2025, será comemorado os 80 anos do colapso do Terceiro Reich. Mas esse evento coincide com um aumento global de movimentos fascistas em todo o mundo. Na Alemanha, o AfD (Alternativa para a Alemanha) está emergindo como o partido político mais influente. O processo de descida ao fascismo está ocorrendo na Itália, na França e, é claro, nos Estados Unidos.
O segundo governo Trump é apenas a manifestação politicamente mais obscena do colapso universal da democracia capitalista. A Constituição dos EUA está se tornando letra morta. Uma ditadura presidencial está sendo erguida, na qual os princípios democráticos de Madison, Jefferson e Lincoln estão sendo substituídos pelas teorias jurídicas criminais de Carl Schmitt. Os Estados Unidos são agora um país em que a Declaração dos Direitos está sendo subordinada ao princípio do Führer, que permite ao presidente declarar um “Estado de Exceção” — Ausnahmezustand — e privar quem ele quiser de todas as proteções legais.
O governo Trump invocou a notória Lei dos Inimigos Estrangeiros — usada anteriormente apenas durante a Guerra de 1812 e a Primeira e a Segunda Guerras Mundias — e está emitindo “Ordens Executivas” arbitrárias como pretextos ilegais fraudulentos para tirar estudantes de suas casas ou apreendê-los nas ruas. Cenas reminiscentes das ditaduras chilena, argentina e brasileira do passado recente, e até mesmo da Alemanha nazista, estão se tornando comuns nos Estados Unidos. Mahmoud Khalil, Rumeysa Ozturk e, mais recentemente, um estudante não identificado da Universidade de Minnesota foram apreendidos e levados para um centro de detenção longe de seus estados. “A noite e a névoa” — Nacht und Nebel — chegou aos Estados Unidos. Outro estudante corajoso, Momodou Taal, aluno da Universidade de Cornell, está lutando nos tribunais para não ser submetido ao mesmo tratamento. Todos esses jovens não cometeram crime algum. Sua única “ofensa” foi o exercício do direito democrático à liberdade de expressão para protestar pacificamente contra o assassinato em massa de palestinos.
E junto ao colapso da democracia, estamos testemunhando o ressurgimento do militarismo, acompanhado pela justificativa e legitimação do genocídio. As guerras na Ucrânia e em Gaza estão provando ser apenas a primeira rodada de uma nova guerra global pela redivisão do mundo. Agora é o momento de ler e estudar os textos seminais sobre o imperialismo escritos por Lenin, Trotsky e outros grandes opositores marxistas do imperialismo.
Como Franz Mehring advertiu na véspera da Primeira Guerra Mundial, os Deuses da Guerra estão sedentos. Trump está ameaçando tomar o Canal do Panamá e a Groenlândia e, seguindo o roteiro de seus heróis nazistas, está se gabando abertamente de seus planos para uma “Anschluss” do Canadá.
Quanto à Alemanha, agora está envolvida em mais uma desastrosa corrida armamentista, lembrando aquelas que precederam 1914 e 1939, para alcançar, mais uma vez, seu “lugar ao sol”. Um novo “Avanço para o Leste” está sendo preparado. A menos que seja interrompido, isso levará a uma catástrofe ainda maior do que as das tentativas anteriores de Guilherme II e Adolf Hitler.
O meu livro, como está claro no título, é uma tentativa de soar o alarme. A humanidade está enfrentando o perigo de uma descida ao abismo. A única saída para essa crise é o fim do sistema capitalista. As alternativas apresentadas por Rosa Luxemburgo, ‘Socialismo ou Barbárie’, confrontam a todos nós hoje. O alarme já soou. Agora precisamos responder a ele.
Adquira Sounding the Alarm: Socialism Against War na Mehring Books.